BUENOS AIRES - A Argentina vive sua pior crise econômica e financeira desde o colapso, em 2001, da dolarização da era Carlos Menem (1989-99). Sob o impacto da Grande Recessão que atingiu a economia mundial em 2008-9, o país reduziu suas exportações, o governo bloqueia importações, a inflação se aproxima de 30% ao ano e algumas empresas estão à beira do calote de suas dívidas em dólares.
A presidente Cristina Kirchner fala em concluir a "pesificação" da economia, acabando com a tendência dos argentinos de poupar em dólares, como se fosse apenas um problema cultura e não uma defesa contra uma política de minidesvalorizações da moeda que alimenta a inflação e mina a credibilidade do peso.
O modelo kirchnerista foi adotado pelo marido de Cristina, Néstor Kirchner, presidente de 2003 a 2007, depois do colapso de 2001-2, que jogara 58% dos argentinos abaixo da linha de pobreza, numa das piores crises da história de qualquer economia moderna, comparada à crise da dívida pública da Grécia.
Kirchner se propôs a reduzir a inclusão social. Para isso, renegociou a dívida caloteada com um desconto que não foi aceita por 25% dos investidores que tinham bônus argentinos. Como o problema não foi solucionado até hoje, há várias tentativas de bloquear bens da Argentina no exterior para saldar os compromissos assumidos. O caso mais recente é o da fragata Libertad, retida há 14 dias num porto de Gana, na África (leia abaixo).
Para combater a inflação e proteger a população fragilizada, Kirchner impôs limites às tarifas cobradas pelas empresas privatizadas por Menem. Como uma retórica populista de defesa dos pobres, adotou políticas antiliberais e antimercado, reduzindo os investimentos, especialmente estrangeiros, na Argentina.
Nos primeiros anos, a economia deprimida avançou numa média de 8% ao ano, mas a crise econômico-financeira internacional de 2008-9 esgotou o modelo kirchnerista antes que a Argentina voltasse a ser um país normal.
"A Argentina tomou medidas excessivamente populistas", criticou o economista turco naturalizado americano Nouriel Roubini, famoso por prever a crise mundial. Em entrevista concedida antes de viajar a Buenos Aires, ele lamentou que o país "não possa tirar todo o proveito de suas vantagens comparativas".
Isolada na Casa Rosada, cerca de áulicos que relutam em lhe dizer a verdade, a presidente age quase como uma autista. Só ouve sua própria voz. Limita-se a repetir o discurso oficial que atribuiu todos os problemas às "elites conservadoras" e aos jornais críticos de seu governo.
Seus partidários se apressam em defender uma emenda constitucional para permitir a terceira eleição de Cristina. A julgar por sua queda de popularidade, será difícil. Há um ano, ela foi reeleita com 54% dos votos no primeiro turno. Hoje, tem o apoio de cerca de 30% dos argentinos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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