O presidente Barack Obama começou o primeiro debate dos candidatos à Presidência dos Estados Unidos em 6 de novembro de 2012, realizado na Universidade de Denver, no Colorado, lembrando seu casamento com Michelle, embora o tema fosse a geração de empregos. De acordo com pesquisa da televisão americana CNN, 67% consideraram o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney vencedor.
Havia uma expectativa de que 60 milhões de americanos assistissem ao debate. Obama começou pela humanização do candidato, para parecer um ser humano normal. O foi direto ao assunto e no final foi considerado melhor, mais animado e mais efetivo ao passar sua mensagem. Ele falou menos do que Obama, mas usou melhor seu tempo.
"Meu plano para gerar empregos tem cinco partes", disse Romney: "independência energética, abrir o comércio com América Latina, enfrentar a China, estimular a formação profissional e ajudar pequenas empresas. Ele promete restaurar a 'vitalidade' dos EUA".
Obama prometeu usar o dinheiro poupado com o fim das guerras no Iraque e no Afeganistão para investir na independência energética dos EUA.
Para Romney, as saídas são "energia e comércio": "Ambos concordamos que é preciso cortar impostos, mas fazer isso reduzindo as isenções para não perder receita". O candidato do Partido Republicano acusou o governo Obama de "enterrar" a classe média.
O presidente reagiu dizendo que seu oponente pretende cortar o déficit orçamentário em US$ 5 trilhões. Romney negou e prometeu não reduzir impostos para os ricos nem aumentar para a classe média. O republicano disse que a reforma fiscal de Obama fará a classe média pagar US$ 3 mil a US$ 4 mil a mais de impostos por ano. O presidente dissera que o republicano vai aumentar os impostos em US$ 2 mil por ano para famílias de classe média.
"Precisamos voltar aos níveis do governo Clinton, que criou 23 milhões de empregos e equilibrou o orçamento. Eu baixei os impostos para pequenas empresas 18 vezes", argumentou Obama, que parece um tanto agressivo. Por enquanto, Romney está seguro e tranquilo. Enfrentou vários tiroteios durante as eleições primárias republicanas.
O ex-governador de Massachusetts insiste em que vai reduzir impostos cortando isenções e deduções para gerar empregos para que mais gente pague impostos. Obama alega que ele vai cortar impostos em US$ 5 trilhões e aumentar os gastos militares em US$ 2 trilhões que o Pentágono não pediu. Desta maneira, seria impossível equilibrar o orçamento.
"O déficit não é só uma questão econômica, é uma questão moral", afirmou Romney, um argumento comum da direita americana. "Estamos passando uma dívida às futuras gerações. Podemos resolver isso de três maneiras: aumentando impostos, reduzindo gastos públicos ou fazendo a economia crescer. Vou tornar o governo mais eficiente. O presidente diz ter reduzido o déficit pela metade, mas na verdade o dobrou. Nenhum presidente endividou mais o país".
Obama tenta citar as medidas de seu governo, combatendo fraudes no sistema de saúde: "Todos sabemos que temos de fazer mais sobre o déficit". Promete um corte de US$ 4 trilhões no déficit público.
"Você aumenta impostos e mata empregos", acusou Romney. "Meu plano é aumentar a arrecadação fazendo com que mais gente trabalhe e ganhe melhor, e assim pague mais impostos".
O presidente denunciou a decadência das escolas para dizer que "orçamentos refletem prioridades". Romney criticou Obama por investir US$ 90 bilhões nas energias eólica e solar. O presidente poderia ter respondido que a China, maior concorrente dos EUA, é hoje o maior investidor nos dois setores.
"Uma das grandes ideias deste país é que os estados são a base da democracia", raciocinou o candidato republicano para justificar a transferência de responsabilidades da União para os estados.
Ao falar de saúde e previdência social, "as maiores causas do déficit", Obama lembrou sua avó, falando que, sem a Previdência Social e os programas de saúde pública, "ela não teria conseguido".
O oposicionista fez questão de prometer não cortar os atuais programas sociais. Não é o que prega seu candidato a vice-presidente, o deputado Paul Ryan, que pretende transformar o programa de saúde para idosos (Medicare) num sistema de cupons que o cidadão usaria para comprar assistência médica no mercado.
"Pessoas da idade da minha avó naquela época, com mais de 65 anos, vão ser abandonadas no momento em que mais precisam de ajuda", alfinetou Obama.
Romney se comprometeu a não mudar o sistema para quem já está aposentado ou é idoso, mas defendeu a necessidade de mudar para as futuras gerações como forma de evitar o excessivo endividamento público: "Temos de garantir que o sistema esteja aí por muito tempo, mas precisamos de competição no sistema".
"A competição vai deixar os idosos nas mãos das empresas de seguro-saúde", rebateu o presidente.
Depois de Romney criticar a "excessiva regulamentação" da economia, Obama reagiu afirmando que "esta é a razão pela qual estamos atravessando uma das piores crises da história, falta de regulamentação. Introduzimos o maior volume de regulamentações em Wall Street desde a Grande Depressão. Se você acredita que falta regulamentação em Wall St., vote em mim. Se você que há regulamentação demais, vote nele".
Agora, Romney exagerou. Culpou a Lei Dodd-Frank, de regulamentação financeira, pela falta de empréstimos bancários, especialmente no setor imobiliário, justamente onde começou a crise.
Sob pressão da ala mais direitista do partido, do movimento Festa do Chá, Romney está prometendo acabar com a reforma de saúde de Obama, que pretende oferecer cobertura para 46 milhões de americanos que não tinham cobertura alguma.
"São milhões de famílias que temem falir se alguém ficar muito doente. Se tiverem doenças preexistentes, as empresas de seguro médico podem não aceitar vocês. A ironia é que vimos esse modelo funcionando bem no estado de Massachusetts, onde o governador Mitt Romney, trabalhando em conjunto com os democratas, tirou milhões de pessoas do frio", cutucou Obama.
Romney pegou a onda e disse que conseguiu trabalhar com um parlamento 87% democrata, acusando Obama de ter aprovado uma reforma "sem um voto republicano" e de dividir o país.
Com seu estilo intelectualizado, o presidente declarou que o problema precisa ser enfrentado e desenvolveu um raciocínio sutil e sofisticado mas longo, o que é sempre difícil de acompanhar em televisão: "É preciso reduzir os custos", concluiu. "O governador Romney não disse o que pretende fazer, além de dizer que vai deixar para os estados".
O republicano repetiu um mantra de seu partido: "O presidente Obama acredita que um conselho de 50 pessoas vai decidir que tratamento você pode ter. O mercado funciona muito melhor, com uma série de pequenas empresas competindo entre si e aprendendo como fazer melhor. Esta é nossa diferença: eu acredito no mercado". O ex-governador acusou o presidente de perder dois anos com a reforma da saúde, em vez de se concentrar na geração de empregos.
Obama agora está acusando Romney de ser vago: "Será que o governador Romney esconde seus planos sobre impostos, saúde, regulamentação de Wall St. porque eles são muito bons?", desafiou.
"O gênio dos EUA é a livre empresa e a liberdade, mas, como disse Abraham Lincoln, já coisas que fazemos melhor juntos, como a Academia de Ciências. O governo pode abrir 'degraus de oportunidade', investir em educação. Isso não significa fazer uma reforma de cima para baixo. Daremos dinheiro aos estadosse eles se comprometeram a fazer reformas. O governo Romney acha que não precisamos mais professores. Eu acho que sim. Isso vai atrair empresas", previu Obama.
Na visão de mundo de Romney, as Forças Armadas são essenciais para preservar "a vida e a liberdade. Eu não acredito em cortes de gastos nas Forças Armadas. Temos de ter as melhores forças militares do mundo". O complexo industrial militar agradece.
A educação é um dos setores onde o governo federal pode fazer uma diferença, entende Obama: "Para isso é preciso dinheiro. Os orçamentos refletem as prioridades de cada governo. Gente como eu e Michelle não teríamos tido a oportunidade de estudar sem o auxílio-educação".
Romney voltou a atacar Obama por ter dado US$ 90 bilhões para energias alternativas, alegando que o dinheiro poderia ter sido usado na contratação de professores. Também se gabou do sucesso das escolas de Massachusetts, uma tradição que vem da fundação da Universidade de Harvard, em 1636.
Nos comentários finais, o presidente afirmou: "Há quatro anos, vivíamos uma das piores crises de nossa história, mas minha fé no futuro dos EUA não foi diminuída".
Romney está preocupado com "o futuro dos EUA, com o curso adotado no país nos últimos quatro anos", como se o último governo republicano, de George W. Bush, não tivesse sido um dos piores da história do país. Promete 12 milhões de empregos e não poupar dinheiro com os militares: "Quero os EUA fortes e a classe média trabalhando".
Obama começou mal, parecendo um tanto abatido e irritadiço. Só lá pela metade relaxou e começou a sorrir. Não falou dos "47% dependentes do Estado", uma das gafes de campanha do adversário nem relacionou claramente as propostas republicanas aos fracassos do governo Bush e à atual crise. Romney teve um grande debate. Disse muitas meias-verdades, mas impressionou bem, posou como presidente e fez promessas vagas, não comprometedoras.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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