Sandy é um exemplo dos fenômenos climáticos maiores e mais violentos provocados pela mudança do clima devida ao aquecimento global. O encontro de uma grande massa de ar quente com uma grande massa de ar frio tornou-o mais radical.
O clima da Terra sempre variou. O último período glacial durou 1 milhão de anos e terminou há 25 mil anos. A espécie humana e seus antepassados estão por aqui há 7 milhões de anos, então suportaram fortes variações de temperatura e climas hostis. Mas a civilização surgiu e se desenvolveu neste meio ambiente benigno do período Holoceno ou Recente.
Quando se fala do aquecimento global como problema
ambiental, a questão é se o planeta está esquentando pela ação do homem. E os
céticos que rejeitam essa tese alegam que os fenômenos da natureza são muito
maiores do que a humanidade. A atividade humana não seria responsável pelo
agravamento do efeito estufa.
Os gases que formam a atmosfera da Terra retêm parte do
calor irradiado pelo Sol, criando uma estufa. Isso deixou a temperatura média
do planeta em 16 graus centígrados. Sem o efeito estufa, a temperatura média
seria de -18ºC (GRIBBEN, 1998), possivelmente incapaz de sustentar a vida na escala atual.
O problema ambiental é o agravamento do efeito estufa. Esta é a principal questão ecológica hoje porque envolve o mundo inteiro e exige uma
solução global que está muito distante.
Hoje o mundo se divide em 194 países ou estados nacionais,
cada um com seus próprios interesses, da gigantesca China, segundo maior país
do mundo, com a maior população, segunda maior economia do mundo e hoje o maior poluidor, a algumas ilhas ameaçadas pela elevação do nível dos
mares.
Um dos riscos é o degelo das calotas polares, que por sua
vez geraria mais dióxido de carbono e metano, alimentando o processo de aquecimento
global.
No século passado, o nível dos mares subiu entre 10 e 20
centímetros, dependendo da região. Neste século, pode subir de 30cm até um
metro, o suficiente para fazer causar grandes estragos para as populações
litorâneas. Mas, se todo o gelo da Antártida derreter, a alta pode chegar a quatro metros.
Só no Brasil, o prejuízo pode chegar a R$ 200 bilhões,
alerta o prof. Paulo Rosman, da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em
Engenharia (Coppe) da UFRJ, citado por TRIGUEIRO em Mundo Sustentável 2 (S. Paulo: Globo, 2012, p. 317-345), sem falar
nos danos à agricultura e à geração de energia hidrelétrica.
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Já no ano de 852 houve registro em Londres da ocorrência de
doenças respiratórias atribuídas à queima de carvão para calefação.
A primeira lei contra a poluição do ar causada pela queima
de combustíveis fósseis foi aprovada em 1273 em Londres. Que combustíveis
fósseis eram usados naquela época?
Em 1661, John Evelyn advertiu para os efeitos nocivos
causados pela queima de carvão.
Em 1769, James Watt adaptou a máquina a vapor movida a carvão
para uso industrial, dando início à Revolução Industrial na Inglaterra.
O Barão Jean-Baptiste-Joseph Fourier foi o primeiro a fazer
uma analogia entre a atmosfera da Terra e uma estufa, descrevendo
pela primeira vez o efeito estufa, em 1827. O irlandês John Tyndal aprofundou
a tese de Fourier, afirmando que o dióxido de carbono e o vapor d’água ajudavam
a atmosfera a reter o calor.
Tyndal acreditava que a composição de gases da atmosfera
poderia alterar a temperatura do planeta.
Em 1860, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera
era de 275 partes por milhão; em 1996, era de 360ppm. Naquele ano, a humanidade
jogou 5,5 gigatoneladas de carbono na atmosfera.
Antes da era industrial, a atmosfera tinha 550 bilhões de
toneladas de carbono na forma de dióxido de carbono; hoje, são mais de 750
bilhões de toneladas.
A tese de que o aumento da concentração de gás carbônico na
atmosfera levaria ao aquecimento global foi proposta pela primeira vez em 1896
pelo químico sueco Svante
Arrhenius, um dos pais da química moderna, formulador da teoria sobre
ácidos e bases, e ganhador do Prêmio Nobel de Química em 1903.
Hoje se sabe que Vênus tem uma grande concentração de gás
carbônico na atmosfera e muito calor. Em contraste, Marte é um planeta árido e
gelado.
Em 1938, o meteorologista britânico G. D. Callendar tentou
em vão convencer a Royal Geographical Society de que o aumento da temperatura
registrado desde 1880 era resultado da maior concentração de gás carbônico.
Em 1957, como parte do Ano Geofísico Internacional, foi
instalada no Havaí a primeira estação para medir a concentração de gás
carbônico na atmosfera. Uma pesquisa acadêmica concluiu que os oceanos não estavam absorvendo gás carbônico como se acreditava.
No governo Lyndon Johnson (1963-69), a Casa Branca realizou em
1965 uma pesquisa sobre a queima de combustíveis fósseis e o aumento sustentado
da concentração de gás carbônico na atmosfera. Em 1970, o Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT, do inglês) fez um simpósio em Cambridge,
nos EUA.
CIÊNCIA DA MUDANÇA DO CLIMA
O primeiro encontro internacional de cientistas para
discutir a mudança do clima foi realizado em Wijk, na Suécia, em 1971.
Em 1972, a Suécia sediou, em Estocolmo, a Conferência das
Nações Unidas sobre o Ambiente Humano.
Em 1975, o Serviço Atmosférico Nacional (NAS) dos EUA destacou a necessidade de mais pesquisas sobre mudança do clima. Em 1977, pede “ação
imediata”.
A 1ª Conferência Mundial sobre o Clima é realizada em
Genebra, na Suíça, pela Organização Meteorológica Mundial, em 1979.
Em 1982, o NAS divulgou um relatório advertindo que a
duplicação da concentração de dióxido de carbono na atmosfera para aumentar a
temperatura média do planeta de 1,5ºC a 4,5ºC. Um consenso começava a se formar
na comunidade científica.
Estimativas posteriores sugerem que o aquecimento
global pode ser ainda mais grave, com um possível aumento de temperatura de
oito a dez graus (LASHOF, 1989).
A Conferência
Internacional para Avaliar o Papel do Gás Carbônico e Outros Gases de Efeito Estufa
nas Variações do Clima e Impactos Associados, realizada em Villach, na Áustria,
concluiu em 1985 que há um processo de aquecimento global causado pelo homem.
O Relatório Brundtland, Nosso
Futuro Comum, foi divulgado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento em 1987. Lança o
conceito de desenvolvimento sustentável, aquele que não compromete o bem-estar das futuras gerações.
Em junho de 1988, a Conferência sobre a Mudança da
Atmosfera: Implicações sobre a Segurança foi realizada em Toronto, no Canadá.
Concluiu que a humanidade está “conduzindo uma experiência global sem controle
e sem intenção cujas consequências finais seriam menos danosas apenas do que
uma guerra nuclear”.
A Conferência de Toronto propôs uma redução até 2005 em 20%
do nível de emissões de 1988.
Em novembro de 1988, o Painel Intergovernamental sobre
Mudança do Clima (IPCC , do inglês) fez sua
primeira reunião, na sede da ONU em Genebra, na Suíça. Em 1990, o IPCC previu
que haveria um aumento de um grau centígrado em relação àquele ano e de dois
graus em relação à era pré-industrial até 2025 e de 3ºC em relação a hoje e de
4ºC em relação à era pré-industrial até o fim do século 21.
De qualquer forma, os ecossistemas serão submetidos a
enormes pressões neste século. Além disso, o ritmo do aquecimento do planeta
pode se acelerar, tornando-se até 50 vezes mais rápido do que num processo
natural. E, em segundo lugar, com o agravamento do efeito estufa, os desastres
meteorológicos – incêndios, secas, furacões e enchentes – podem se tornar mais
frequentes e mais violentos
CONVENÇÃO DO CLIMA
Em dezembro de 1988, a Assembleia Geral da ONU pediu à
Organização Meteorológica Mundial e ao Programa de Meio Ambiente da ONU para
propor medidas para mitigar o aquecimento global e para uma convenção
internacional sobre mudança do clima.
Ao fazer planos para congelar as emissões de gás carbônico
nos níveis de 1989-90, a Holanda tornou-se o primeiro país a estabelecer metas
para conter o aquecimento global.
A primeira reunião do comitê internacional de negociação
sobre uma Convenção Quadro sobre Mudança do Clima foi realizada em Washington,
nos EUA, em 1991, seguida de encontros em Genebra e Nairóbi. Em maio de 1992,
os negociadores chegaram a um acordo em Nova York.
Apesar da oposição dos EUA e dos países exportadores de
petróleo, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Rio-92) aprovou a Convenção Quadro sobre Mudança do Clima, que entraria em
vigor em março de 1994.
O presidente George Bush, pai, declarou que não faria nada
capaz de reduzir a lucratividade e a produtividade das empresas americanas.
Usou o mesmo discurso para rejeitar também a Convenção sobre Diversidade
Biológica. Sinalizava assim a oposição dos EUA ao Protocolo de Quioto.
PROTOCOLO DE QUIOTO
O vice-presidente Al Gore, que veio à Rio-92 fazer sombra a
Bush, se empenhou pessoalmente pela aprovação do protocolo em 1997 na antiga
capital do Japão. O acordo de Quioto propunha uma redução em média de 5% nas
emissões de gases de efeito estufa de 1990 e seu congelamento em 37 países
desenvolvidos.
Como o aquecimento global é resultado da poluição
industrial, os países industrializados há mais tempo têm maior responsabilidade.
Os países em desenvolvimento não estavam submetidos a nenhuma obrigação.
Mas o maior poluidor do mundo naquela época, os EUA, nunca
ratificou o Protocolo de Quioto. O presidente Bill Clinton assinou o acordo
no último dia de seu governo, jogando a bomba no colo de George W. Bush.
Pela Constituição dos EUA, todos os acordos internacionais
precisam ser aprovados pelo Senado. Nunca houve condições políticas para
aceitar a imposição externa de um limite para a emissão de gases pelos
americanos.
Gore ganhou um Oscar em 2007 pelo filme documentário Uma
Verdade Inconveniente, mas não conseguiu se eleger presidente nem
mobilizar os americanos para pressionar o Senado ou poluir menos.
De 1990 a 2010, as emissões dos EUA cresceram 13% e as da
Europa, 1%.
Em 2007, o IPCC apresentou as seguintes conclusões:
• Há pelo menos três décadas, o aquecimento global atinge
todas as regiões da Terra, com alta média de 0,5ºC a 1ºC no Equador e de até
4ºC nos polos. Nas latitudes médias, a elevação já é da ordem de 2ºC. Na
Europa, as estações mais quentes estariam começando 15 dias mais cedo.
• Os ciclos de vida de inúmeras espécies e ecossistemas está
sendo perturbado.
• Para limitar o aumento da temperatura em 2ºC até 2100,
seria necessário reduzir as atuais emissões de gases de efeito estufa pela
metade até 2050 e em um quarto até 2100.
• Estes modelos não consideram algumas incertezas capazes de
agravar o aquecimento e acelerar a elevação do nível dos mares, como o
derretimento total das calotas polares.
Desde a aprovação da Convenção Quadro sobre Mudança do
Clima, na Rio-92, houve 17 conferências das partes, ou seja, dos signatários da
convenção. A 18ª Conferência sobre Mudança do
Clima será realizada de 26 de novembro a 7 de dezembro de 2012 em Doha, no
Catar, uma das monarquias petroleiras que no princípio rejeitava a tese da
mudança do clima sob ação do homem.
Seu objetivo será negociar um acordo para substituir o
Protocolo de Quioto, que expira no fim deste ano. Diante do fracasso das
negociações até aqui, uma das propostas é prorrogar o acordo atual, mas o
Canadá, o Japão e a Rússia já anunciaram que não pretendem aceitá-la.
A maior esperança era a 15ª Conferência sobre Mudança do Clima,
realizada em Copenhague, na Dinamarca, em dezembro de 2009, com a presença de
chefes de Estado como os presidentes Barack Obama, Hu Jintao e Luiz Inacio da
Silva, e os primeiros-ministros da Europa e do Japão.
Se Quioto fracassou pela ausência do maior poluidor, os EUA,
na Conferência de Copenhague, Obama não tinha a menor condição de propor algo
mais do que uma tímida redução em relação aos níveis de 2005 que mesmo assim
não foi aceita pelo Senado.
Ao mesmo tempo, o mundo mudou. O maior poluidor hoje é a
China, que está interessada em aumentar sua eficiência energética e controlar a
poluição, mas não aceita a imposição de limites externos a seu desenvolvimento.
Os grandes países emergentes, especialmente a China, a
Índia, o Brasil e a Indonésia, não querem aceitar imposições dos países ricos,
que inicialmente poluíram sem limites e depois exportaram suas fábricas sujas
para o Terceiro Mundo. E os países ricos não querem fazer concessões
unilaterais, especialmente para a China, segunda maior economia do mundo.
Sem a China e os EUA, maiores poluidores mundiais, o máximo
que os países-membros da ONU concordaram em Copenhague foi em continuar
negociando. Sem os grandes emergentes, os EUA, o Canadá, o Japão e a Rússia, só
a União Europeia parece interessada em reduzir as emissões de gases de efeito
estufa.
Como a UE responde por apenas 11% das emissões, pode ser um
bom exemplo, mas não vai resolver o problema sozinha.
Em meio a uma crise econômica, e esta é a pior desde a
Grande Depressão (1929-39), todo mundo está preocupado com crescimento e
emprego – e não com a proteção ao meio ambiente.
Por isso, não houve avanços significativos na Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) nem há expectativa
de progresso nos próximos anos nas negociações globais sobre mudança do clima.
Mas muitos governos regionais e municipais, organizações não governamentais e
cidadãos conscientes estão tomando medidas para reduzir a queima de
combustíveis fósseis, inclusive nos EUA.
BIBLIOGRAFIA:
BARBAULT, Robert – Ecologia
Geral. Petrópolis: Vozes, 2011.
BRENTON, Tony – The
Greening of Machiavelli. Londres: Earthscan, 1994.
GRUBB, Michael and others – The Earth Summit Agreements. Londres: Easthscan, 1993.
ROWLANDS, Ian – The
Politics of Global Atmospheric Change. Manchester: Manchester University,
1995.
TRIGUEIRO, André - Mundo
Sustentável 2. S. Paulo: Globo, 2012.
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