Lewis Libby, ex-assessor do vice-presidente Dick Cheney, foi condenado em quatro das cinco acusações, no processo sobre a revelação do nome de uma agente secreta dos Estados Unidos em retaliação porque seu marido fizera um relatório em 2002 negando que o então ditador iraquiano Saddam Hussein tivesse tentado comprar urânio no Níger. É o mais alto funcionário do governo George W. Bush condenado até hoje.
A sentença será proferida em 5 de junho. Libby foi condenado por obstrução de Justiça, declaração falsa e duas acusações de perjúrio. Pode pegar até 25 anos de prisão. O jornal The Washington Post prevê que ele fique de um ano e meio a três anos na cadeia. Os advogados de defesa vão correr.
Mais do que Libby, está em julgamento a Guerra do Iraque. A denúncia criminal contra o principal assessor de Cheney, o mais poderoso vice-presidente da História dos EUA, coloca em julgamento a cúpula que tomou o poder na Casa Branca e as mentiras sobre as armas de destruição em massa de Saddam Hussein que justificaram a invasão anglo-americana do Iraque.
Em outubro de 2001, o serviço secreto da Itália disse ter obtido informações de que Saddam estaria tentando comprar urânio no Níger. Para investigar o caso, o governo dos EUA mandou à África o embaixador Joseph Wilson, que produziu um relatório me março de 2002 dizendo que a alegação era falsa.
Mesmo assim, no discurso sobre o Estado da União, em 28 de janeiro de 2003, Bush voltou a insistir na denúncia, citando como fonte um memorando do serviço secreto britânico de setembro de 2002.
Em 7 de março de 2003, ao depor no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed ElBaradei, descreveu os documentos sobre a suposta compra de urânio no Níger como "falsificações grosseiras".
Dois meses depois, Bush ordenou a invasão do Iraque, onde não foram encontradas as armas de destruição em massa (químicas, biológicas e nucleares) que serviram como pretexto para a guerra. O ataque começou em 20 de março de 2003. Saddam caiu em 9 de abril. Em 1º de maio, Bush anunciou o fim das "grandes operações de combate", como se a guerra estivesse acabando.
Quando ficou claro que não havia armas de destruição em massa no Iraque, em 6 de julho de 2003, o embaixador Wilson publicou artigo no NYTimes argumentando que suas informações tinham sido “distorcidas” para exagerar a “ameaça” iraquiana.
Dois dias depois, discutindo a questão com repórteres, o marqueteiro de Bush, Carl Rove, e Libby teriam deixado escapar a informação confidencial ao comentar que Valerie Plame poderia ter influenciado a indicação do marido para a missão já que era “uma agente secreta que operava na área de armas de destruição em massa”. A notícia foi publicada pelo colunista conservador Robert Novak em 14 de julho, deflagrando o Plamegate. A identidade de um espião é um segredo de Estado garantido em nome da segurança nacional dos EUA.
Irritado, o então diretor-geral da CIA, George Tenet, que revelara ao vice-presidente a identidade de Plame, pediu a abertura de inquérito. Durante as investigações, depuseram diversos altos funcionários do governo. Dois anos depois, o procurador Fitzgerald apresentou a primeira queixa-crime, contra Libby, por tentar encobrir o caso com mentiras e falso testemunho, e
assim obstruir a justiça.
Em 10 de junho de 2004, o presidente prometeu demitir quem quer que tivesse deixado vazar para a imprensa a identidade da agente da CIA.
Dois jornalistas foram pressionados a revelar suas fontes. A Suprema Corte decidiu que os jornalistas não têm privilégios. Se intimados, são obrigados a depor sob juramento de dizer a verdade, como todo cidadão americano.
Para não pegar um ano e meio de cadeia, Matthew Cooper, da revista Time, entregou à Justiça seu caderno de notas indicando Rove como sua fonte. Judith Miller, do NYTimes, ficou 80 dias presa por se negar adepor para não revelar sua fonte antes de receber autorização expressa. Acabou revelando que recebera a notícia de Libby.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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