Em pronunciamento na televisão para marcar o quarto aniversário da invasão do Iraque, na madrugada de 20 de março de 2003, o presidente George Walker Bush voltou a defender sua decisão de ir à guerra e aproveitou para pressionar o Congresso, agora com maioria da oposição democrata. Pediu paciência, admitindo que "a luta é difícil" e advertiu que uma retirada prematura dos soldados americanos transformaria o Iraque no novo Afeganistão, um antro de terroristas, com efeito "devastador" para a segurança nacional dos Estados Unidos.
"Há quatro anos, iniciamos a operação Liberdade no Iraque para afastar a ameaça que Saddam Hussein e seu regime representavam para o mundo", declarou Bush. "Ficamos livres de Saddam Hussein, processado por seu próprio povo" e executado de uma forma que pareceu uma vingança xiita, o que o presidente omitiu.
Saddam caiu em 9 de abril de 2003. Em 1º de maio, Bush anunciou "o fim das grandes operações de combate", como se a guerra estivesse ganha, a situação estivesse sob controle e os soldados americanos perto de voltar para casa.
Hoje o total de americanos mortos está em 3.204, na estatística oficial do Departamento da Defesa (Pentágono). O número de civis iraquianos mortos está entre 59 e 65 mil, segundo o site Irad Body Count, que soma os números das mortes noticiadas. Outras estimativas supõe que há uma subnotificação e que o verdadeiro número seria de centenas de milhares de mortos.
Na sua análise otimista, o presidente dos EUA mencionou as "eleições livres" e a "Constituição democracrática": "Os iraquianos estão trabalhando para construir uma sociedade livre, com respeito aos direitos humanos e aliada na guerra contra o terrorismo". E mais adiante: "O Iraque aprovou uma lei para dividir a renda do petróleo" entre curdos, sunitas e xiitas.
Bush contou ter se reunido em videoconferência com o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki; a secretária de Estado, Condoleezza Rice; o comandante militar dos EUA no Iraque, general David Petraeus; e o embaixador americano em Bagdá, Zalmay Khalilzad. Eles fizeram um balanço da nova estratégia anunciada no início do ano.
Menos da metade dos reforços anunciados chegou ao Iraque. Seu objetivo: tentar controlar a violência na capital iraquiana. "O plano está nos estágios iniciais", disse Bush, alertando que haverá "dias bons e dias ruins". Ele citou ainda a destruição de uma fábrica de carros-bomba.
"O sucesso não virá em dias e semanas, mas em meses". Acrescentou que mais três brigadas do Exército do Iraque se juntaram à operação e "não há limites para onde ir", citando as restrições do governo iraquiano em relação à Cidade de Sader, o bairro xiita da periferia de Bagdá dominado pelo Exército Mehdi, do aiatolá rebelde Muktada al-Sader.
Em seguida, pressionou o Congresso a aprovar novas verbas para financiar a guerra, sob o argumento de que uma retirada prematura teria resultados "devastadores" para os EUA, com risco de que "a violência engolfe toda a região" e que o iraque substitua o Afeganistão, onde foram treinados os terroristas que realizaram os atentados de 11 de setembro de 2001, como base do terrorismo.
Para o presidente, os EUA precisam de "uma verdadeira vontade de vencer. Venceremos se tivermos a coragem".
Nas ruas de Bagdá, iraquianos entrevistados pela televisão pública britânica BBC observaram que a economia, a segurança pública e o relacionamento entre os diferentes grupos étnicos e religiosos eram muito melhores sob Saddam.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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