quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"Grécia não pode ser rica como a Irlanda"

Nem a austeridade fiscal monetarista imposta pela Alemanha num um estímulo fiscal keynesiano é capaz de salvar a Grécia, adverte hoje o professor venezuelano Ricardo Hausmann, ex-economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e atual diretor do Centro de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard nos Estados Unidos.

Em artigo no jornal inglês Financial Times, principal diário econômico-financeiro da Europa, o economista observa que, ao contrário da Irlanda, a Grécia não fábricas máquinas, eletroeletrônicos nem produtos químicos, produtos com alto valor agregado. Sem uma profunda reforma econômica para aumentar sua competitividade, não terá como manter o nível de renda atingido com a adesão à união monetária europeia.

O déficit nas contas externas da Grécia foi de 8,6% do produto interno bruto em 2011. Isso é insustentável, alerta Hausmann. Para sair desta situação, os gregos precisam exportar mais ou gastar menos.

Como um em cada quatro dólares gastos pelos gregos vai para o exterior, o professor calcula que seria necessária uma queda de 25% no PIB para promover o ajuste. Isso é politicamente inviável.

Para acertar as contas via comércio exterior, será preciso aumentar as exportações em 50%. Não é fácil para um país sem a opção de desvalorizar sua moeda para aumentar a competitividade. O setor de turismo, um dos mais importantes da Grécia, teria de crescer três vezes. Isso é improvável.

Além de não poder desvalorizar a moeda sem uma catastrófica saída da Zona do Euro, falta à Grécia a produtividade para vender produtos de alto valor agregado. No Atlas da Complexidade Econômica, Hausmann e outros economistas calcularam a quantidade de conhecimento agregado em 128 países.

Um país com elevado nível de "conhecimento produtivo" exporta produtos de alto valor agregado, de alto conteúdo tecnológico, o que também não é o caso do Brasil, com a exceção dos aviões da Embraer. De cada 10 dólares movimentados no mundo pelo setor de tecnologia da informação, só um centavo vai para a Grécia.

Em contraste, a Irlanda, abalada por sua pior crise econômica desde que aderiu à então Comunidade Econômica Europeia, em 1973, fruto do estouro de uma bolha no mercado imobiliário e da decisão do governo de salvar bancos, conseguiu rapidamente obter um saldo positivo na conta corrente porque durante décadas atraiu empresas estrangeiras de alta tecnologia como a Apple e a Microsoft.

"A Irlanda tem o que precisa para ser rica como é agora", conclui Hausmann. "A Grécia deve aproveitar o apoio internacional para reduzir em vez de adiar a dor do ajuste. (...) Precisa aumentar sua base de exportações. Tem de atrair exportadores com investimentos em infraestrutura, formação profissional, pesquisa e desenvolvimento".

O economista sugere a criação de uma agência de desenvolvimento industrial como a da Irlanda. Hausmann tem uma boa notícia: dos países estudados no atlas, a Grécia é o segundo, depois da Índia, em melhores condições para se tornar um exportador de produtos de alto conteúdo tecnológico.

"Infelizmente", conclui o professor de Harvard, "esta lição não está sendo observada e a Grécia está cada vez mais perto do abismo."

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