Há 27 anos, quando era funcionário do partido numa região de criação de porcos, Xi liderou uma delegação chinesa que visitou fazendas, foi ao Rotary Club e assistiu a um jogo de beisebol em Iowa.
Durante duas noites, ele se hospedou na casa de um casal de classe média em Muscatine. Dormiu entre bonecos do seriado Jornada nas Estrelas no quarto dos filhos do casal, que estavam na universidade.
Foi sua primeira viagem ao exterior. Agora, na primeira visita oficial aos Estados Unidos desde que foi indicado para dirigente máximo da superpotência emergente, aos 58 anos, Xi fez questão de tomar um chá com os velhos amigos.
É a visita mais importante de um líder estrangeiro a Iowa desde que Nikita Kruschev foi conhecer a agricultura do Meio-Oeste americano, em 1959, na primeira visita de um líder da União Soviética aos EUA.
Para o ex-secretário do Tesouro dos EUA Henry Paulson, que o encontrou em dezembro, Xi é "um líder forte e confiante", de comunicação fácil, que conhece o Ocidente.
Depois de encontrá-lo três vezes, o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, que iniciou a reaproximação com a China ao visitar o país há 40 anos, descreveu-o como "mais afirmativo do Hu. Quando ele entra na sala, sente-se uma presença importante".
Um dos objetivos da visita sentimental é apresentar o futuro líder chinês como um homem confiante, com personalidade diferente do atual presidente, Hu Jintao, um burocrata sombrio, e familiaridade com os EUA.
Em 1979, pouco depois de lançar as reformas que transformaram a China na segunda maior potência mundial, Deng Xiaoping posou com um chapéu de vaqueiro no Texas. Foi um gesto ousado para um líder que havia sido expurgado durante a Revolução Cultural (1966-76) e enfrentava acusações de minar o sistema socialista com suas experiências capitalistas.
Deng inventou a "economia de mercado socialista". Explicou à Enciclopédia Britânica que o mercado era anterior ao capitalismo, portanto não poderia ser monopólio do sistema capitalista. Mas nunca um alto dirigente do regime comunista chinês tentou mostrar laços pessoais tão fortes com os EUA como Xi Jinping.
Em outubro deste ano, o presidente Hu e outros seis membros do Comitê Permanente do Politburo do Comitê Central do PC chinês, de nove membros, se aposentam, abrindo espaço para uma renovação na cúpula do partido sob a liderança de Xi. Nas ruas, eles são chamados de "os nove imperadores".
Com a economia em desaceleração por causa da crise internacional, a desigualdade social crescente e os enormes problemas ambientais, Xi terá de retomar as reformas econômicas, que ficaram estagnadas na última década, de grande crescimento para a China. Quando o problema é o crescimento acima de 10% ao ano, o governo não se sente na obrigação de fazer grandes mudanças.
O vice-presidente chinês é filho de Xi Zhongxun, herói da revolução e alto dirigente do partido expurgado em 1962 por apoiar a publicação de um livro crítico do Camarada Mao Tsé-tung. Reabilitado depois da Revolução Cultural, propôs e ajudou a implantar a primeira zona econômica especial de processamento de exportações. Apoiou as reformas de Deng até sua morte, em 2002. Foi contra o afastamento de Hu Yaobang da Secretaria Geral do partido, em 1987, e a repressão ao movimento estudantil massacrado na Praça da Paz Celestial, em junho de 1989.
Xi nasceu no luxuoso complexo residencial da cúpula do partido no centro do Beijim, ao lado da Cidade Proibida, o antigo palácio imperial da capital chinesa. Os novos imperadores moram ao lado de onde ficavam os velhos, e a verdadeira cidade proibida hoje é a residência oficial dos caciques do PC.
Hu era filho do dono de uma casa de chá. Teve de galgar por si próprio até chegar ao topo da hierarquia do partido. Os sinólogos dizem que o presidente preferia o vice-primeiro-ministro Li Keqiang como sucessor. Xi Jinping é um dos chamados príncipes da hierarquia comunista.
Quando ele tinha nove anos, o pai foi colocado em prisão domiciliar por um período de 16 anos. Aos 15 anos, durante a Revolução Cultural, Xi foi enviado para reeducação entre os camponeses da província de Xaanxi, no Norte da China.
Como seu pai ajudara a organizar o PC na província nos anos 30, ele foi respeitado e bem tratado pelas lideranças locais.
Durante sete anos, o próximo dirigente máximo da China morou nas casas tradicionadas cavadas na rocha do Norte do país. Suas tarefas eram construir diques e explorar meios de coletar o gás metano dos dejetos de animais.
Numa entrevista em 1996, Xi admitiu ter suportado "mais dureza que a maioria das pessoas" por ser filho de um dirigente político que caiu em desgraça. Ele foi preso três vezes e obrigado a denunciar o próprio pai.
Depois de ser rejeitado nove vezes, em 1974, Xi tornou-se membro do partido. Por duas vezes, não conseguiu entrar na prestigiada Universidade Tsinghua, em Beijim. Seu pai teve de apelar para o filho não ser prejudicado por sua situação política.
Quando Xi se graduou em química orgânica, em 1979, seu pai havia voltado à elite do partido. O filho se tornou secretário do vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa Geng Biao, um amigo e camarada de armas do pai do tempo da revolução comunista. Isso lhe permitiu estabelecer ligações com os militares, o que nem Hu nem seu antecessor Jiang Zemin tem.
Xi Jinping é vice-presidente da Comissão Militar do Comitê Central e deve ser eleito presidente desta comissão, o único cargo oficial de Deng Xiaoping quando era o líder máximo da China.
Ao deixar a farda, em 1982, ele assumiu a subchefia do partido no condado de Zhengding, uma região de criação de portos na província de Hebei, no Norte. Lá Xi conheceu o atual governador de Iowa, Terry Branstad, que visitou Hebei em 1984 dentro de um programa de "estados irmãos". No ano seguinte, uma delegação chinesa foi a Iowa.
Na volta, tornou-se vice-prefeito do porto de Xiamen, trabalhando para outro amigo de seu pai. De lá, passou a líder do partido nas prósperas e dinâmicas províncias de Fujian e Zhejiang, onde se mostrou um bom administrador com bom trânsito nos meios empresariais.
Numa votação informal entre a cúpula do partido, em 2007, Xi despontou como favorito à sucessão, que pela segunda vez seguida aparentemente será previsível na turbulenta história moderna da China.
"Seu pai era muito popular", observa o professor Zheng Yongnian, especialista em política chinesa na Universidade Nacional de Cingapura. "Isso lhe dá mais autoconfiança, além dele ter muito mais conhecimento sobre o Ocidente. Penso que ele acredita que poderá consolidar o poder muito mais rapidamente do que Hu".
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