Sob pressão de uma crise econômica com desabastecimento e inflação superior a 60% ao ano, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta semana uma reforma ministerial para "fazer os ajustes necessários" para lançar "cinco revoluções: econômica, do conhecimento, das missões socialistas, da política estatal e do socialismo territorial". Na prática, apontam os críticos, muda para não alterar as linhas básicas da "revolução bolivarista" pregada pelo falecido caudilho Hugo Chávez.
O fato mais notável dessa "mudança cosmética", nas palavras do jornal francês Le Monde, foi a substituição de Rafael Ramírez, vice-presidente para questões econômicas, ministro da Energia e presidente da companhia estatal Petroleos de Venezuela S. A. (PdVSA), onde ele estava há uma década, pelo tecnocrata Eulogio del Pino.
O poderoso Ministério do Petróleo e da Mineração foi entregue a Asdrubal Chávez, sobrinho do presidente morto por um câncer há um ano e meio. Um tecnocrata assumiu a direção da PdVSA.
Para o jornal americano The Wall St. Journal, porta-voz do centro financeiro de Nova York, isso indica que Maduro "não rompeu com o núcleo mais radical no seio do partido no poder". Ramírez era considerado "menos dogmático".
Sua substituição não alimenta esperanças de mudança numa administração tão desastrosa e incompetente que a Venezuela, país com maiores reservas mundiais de petróleo, está prestes a se tornar importador, observa o comentarista Andrés Oppenheimer no jornal Miami Herald.
Enquanto a oposição ensaia uma retomada das manifestações de protesto e o governo não divulga índices de inflação desde maio, quando chegou a 60% ao ano, Maduro insiste em levar a revolução chavista até o fim.
O delírio é tanto na Venezuela que foi feita uma versão do Pai Nosso para canonizar Chávez, durante um encontro do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV): "Chávez nosso que estás no céu, na terra, no mar e em nós, delegados, santificado seja o vosso nome. Venha a nós o teu legado para levá-lo aos povos daqui e de lá. Dai-nos hoje a tua luz para que nos guie a cada dia e não nos deixeis cair na tentação do capitalismo, mas livrai-nos da maldade da oligarquia, do crime e do contrabando. Porque nossa é a pátria por séculos e séculos. Amém. Viva Chávez!"
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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