Se a Escócia se tornar um país independente sem moeda própria depois do referendo de 18 de setembro de 2014, será a receita para o desastre, adverte o economista Paul Krugman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, lembrando a crise recente dos países da periferia da Zona do Euro.
A libra sofreu uma forte queda hoje, depois da primeira pesquisa dando vantagem aos nacionalistas escoceses por 51% a 49%, publicada ontem. Seria o fim de 307 anos de união entre Inglaterra, País de Gales e Escócia.
Em sua coluna no jornal The New York Times, Krugman alerta: "Você pode pensar que a Escócia pode virar um novo Canadá, mas é muito mais provável que se transforme numa Espanha sem o sol."
Krugman faz a comparação porque são dois países mais à esquerda, com vizinhos com economias muito maiores com os quais ambos têm fortes relações. A maior diferença é que o Canadá tem sua própria moeda, pode imprimir dinheiro, salvar bancos. "Uma Escócia independente não poderia. E isso faz uma grande diferença."
O movimento nacionalista escocês quer manter a libra esterlina como moeda, mas os três principais partidos britânicos recusam a união monetária. Aí entra o paralelo com a Eurozona.
Caso os países que abriram mão de suas moedas para aderir ao euro fizessem parte de um sistema federativo, a união arcaria com parte das perdas. O economista lembra que tanto a Espanha quanto a Flórida experimentaram grande valorização de seus imóveis de 2000-7, seguida da uma explosão espetacular da bolha especulativa. As arrecadações de impostos diminuíram e os gastos sociais aumentaram para enfrentar a crise.
Na Flórida, parte do choque foi absorvida pelo governo federal dos EUA, que manteve os pagamentos da Previdência Social, assistência médica e seguro-desemprego. Muitos contratos imobiliários não foram honrados, levando bancos à falência, mas a maioria dos prejuízos ficou com agências federais, e os depósitos a vista foram garantidas por um seguro federal.
"Na prática", acrescenta Krugman, "a Flórida recebeu ajuda em larga escala num momento de dificuldades."
Por outro lado, como a Alemanha não quis bancar os prejuízos dos países da periferia da Eurozona, a Espanha teve de arcar sozinha com os custos do estouro da bolha imobiliária. O resultado foi um desequilíbrio nas contas públicas agravado pela ameaça de uma crise bancária.
Em consequência, os juros pagos para refinanciar a dívida pública espanhola dispararam e o governo foi obrigado a adotar "medidas brutais" de austeridade econômica que elevaram o desemprego entre os jovens acima de 50%. A Espanha recém ensaia uma recuperação, mas o desemprego voltou a subir.
Uma Escócia independente não terá voz dentro do Banco da Inglaterra, como a Espanha tem no Banco Central Europeu (BCE), concluiu Krugman: "Se os eleitores escoceses foram convencidos de que é seguro tornar-se um país independente sem uma moeda própria, foram enganados."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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