domingo, 28 de setembro de 2014

Polícia usa gás lacrimogênio contra protesto em Hong Kong

A polícia usou gás lacrimogênio para tentar dispersar um protesto pacífico de 60 mil pessoas liderado por estudantes para exigir democracia na eleição do próximo governador regional e do parlamento de Hong Kong, ex-colônia britânica que tem ampla autonomia dentro da República Popular da China como "uma região administrativa especial", com a exceção de defesa e política externa.

Há uma semana, os estudantes fazem uma greve e uma campanha de desobediência civil. Mais de 80 estudantes foram presos desde sexta-feira, depois de indicações das autoridades do regime comunista chinês de que não vai abrir mão da prerrogativa de indicar o governador de Hong Kong, frustrando os sonhos de democratização em 2017.

Pelo menos 38 pessoas foram hospitalizadas. O Sindicato dos Professores Profissionais anunciou uma greve nesta segunda-feira em protesto contra a violência policial.

O governador Leung Chung-ying fez um apelo na televisão para que os manifestantes deixem o local do protesto. Ele pediu calma e prometeu que não haverá intervenção do Exército Popular de Libertação.

Quando o Reino Unido concordou em devolver Hong Kong à China em 1º de julho de 1997, o regime comunista chinês aceitou manter o sistema capitalista e as liberdades civis por pelo menos 50 anos. A fórmula "um país, dois sistemas", criada pelo dirigente Deng Xiaoping, seria um modelo aplicável também em Taiwan, que o governo chinês considera uma província renegada e ameaça invadir se declarar independência.

A colônia britânica gozava das mesmas liberdades públicas da Grã-Bretanha, mas a maioria dos deputados da Câmara Legislativa, o parlamento unicameral de Hong Kong, era indicada por grupos de interesse e não eleita diretamente pelo voto popular. Os britânicos mudaram a regra pouco antes da devolução da colônia. Também aumentaram o poder do Legislativo diante do Conselho Executivo, o governo do território.

Em 1995, pela primeira vez, todas as vagas foram preenchidas pelo voto direto. Ao reassumir o controle de Hong Kong, em 1997, a China rejeitou essa democratização de última hora e revogou o aumento de poderes do Legislativo, mas manteve a promessa na Lei Básica, uma espécie de Constituição da ex-colônia.

O artigo 68 da Lei Básica declara como objetivo final a eleição direta de todos os membros do legislativo. Outro faz a mesma promessa em relação ao governador. Esta é a questão política mais candente da ex-colônia britânica, hoje um território autônomo ou "região administrativa especial", nos termos da lei chinesa.

Em 2012, os candidatos a favor da democracia conquistaram mais de 1 milhão de votos contra quase 772,5 mil para os aliados a Beijim. Como a China indica parte dos deputados, das 70 cadeiras, 43 são ocupadas por aliados da ditadura militar chinesa e 27 pelo bloco democrático.

As próximas eleições estão marcadas para 2016, e o regime comunista já deixou claro que mais uma vez a promessa de democracia será adiada. O novo governador será eleito em 2017. Beijim deve vetar qualquer candidato contrário a seus interesses. É contra isso que os estudantes se revoltam.

Se Hong Kong se tornar uma democracia, será um exemplo para o resto da China. O Partido Comunista não está disposto a ceder seu monopólio do poder político.

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