Os partidos islamitas que dominam a Assembleia Nacional da Tunísia rejeitaram ontem a proposta do primeiro-ministro Hamadi Jebali para formar um governo de união nacional e assim enfrentar a crise gerada pelo assassinato do líder esquerda Cokri Belaïd, um advogado marxista de 48 anos defensor dos direitos humanos.
Belaïd foi assassinado quando saía de casa em 6 de fevereiro de 2013. Ele era o mais eloquente porta-voz da oposição. Denunciava a ação crescente de milícias islamitas que querem sequestrar a revolução que derrubou, em 14 de janeiro de 2011, o ditador Zine ben Ali, que estava no poder havia 23 anos.
Há meses, a violência aumenta. Pelo menos desde outubro, há denúncias regulares de ameaças e ataques a liberais, esquerdistas, feministas, jornalistas e artistas, que são considerados infiéis ao Islã pelos integristas.
Como no caso da Irmandade Muçulmana no Egito, o partido dominante da Tunísia, o Nahda, não mostra interesse e num diálogo amplo e aberto com a sociedade. Ao não aceitar a proposta de união nacional, sente-se no direito de representar toda a sociedade. Mas a revolta popular está nas ruas e a polícia age com a mesma brutalidade do antigo regime.
Os sindicatos convocaram uma greve geral para hoje. Há riscos de novos conflitos violentos.
Como disse ontem o jornal francês Libération, a esperança é que o país onde nasceu a Primavera Árabe não seja o primeiro a enterrá-la.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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