O papa Bento XVI anunciou hoje sua renúncia ao cargo de chefe da Igreja Católica Apostólica Romana a partir de 28 de fevereiro de 2013, alegando problemas de saúde. É o primeiro papa a fazer isso em quase 600 anos, desde Gregório II em 1415.
Bento XVI era o Sumo Pontífice desde 2005, quando morreu João Paulo II. Um substituto deve ser eleito pelo Sacro Colégio Cardinalício antes da Páscoa, que este ano cai em 31 de março. Estão aptos a votar 117 cardeais, na maior parte europeus.
Conservador, o cardeal Joseph Ratzinger foi nomeado por João Paulo II prefeito da Sagrada Congregação da Doutrina da Fé, o Santo Ofício, a antiga Inquisição. Nesta função, perseguiu seguidores da chamada Teologia da Libertação, defendida por setores progressistas a favor de uma igreja mais envolvida em questões sociais e políticas, sob influência marxista.
Como Sumo Pontífice, Bento XVI criticou "uma ditadura do relativismo" cultural que tenta tornar aceitáveis o que antes era considerado intolerável pela sociedade e por pessoas religiosas. Ele próprio foi muito criticado em 2006, quando afirmou que o islamismo era uma religião guerreira e teve de pedir desculpas.
A saúde sempre foi um de seus maiores problemas como papa. Afinal, ele sucedeu ao atlético João Paulo II, que percorreu o mundo mesmo depois de ter sido baleado num atentado em 1981.
Na renúncia, Bento XVI argumentou que seu corpo e sua mente não têm mais força suficiente para comandar o Vaticano. Seu irmão disse que ele foi orientado pelo médico a não fazer mais viagens transatlânticas.
A revista de negócios Harvard Business Review fez uma análise das implicações da renúncia de Bento XVI sobre liderança e envelhecimento.
Do ponto de vista político, seu maior desafio foi enfrentar uma série de escândalos sexuais envolvendo ministros da Igreja, especialmente de pedofilia. Nem isso o levou a cogitar o fim do celibato.
Aqui no Brasil, o frei Leonardo Boff, que foi silenciado pelo papa por seu apoio à Teologia da Libertação, acusou Bento XVI de usar o segredo pontifício para tentar evitar que padres e bispos fossem julgamento pela justiça comum pelos escândalos sexuais da Igreja. Ele só teria recuado quando a situação era insustentável. Aí pediu desculpas e prometeu rigor na investigação.
A expectativa agora é de eleição de um papa do Terceiro Mundo, que leve o trabalho de evangelização da Igreja Católica para regiões onde ela está sob pressão de outras religiões. Mas 61% dos cardeais que participarão do Conclave para escolher o novo papa são europeus.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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