Enquanto o mundo inteiro aplaude a ação dos bancos centrais dos países ricos para combater a crise econômica internacional, o Brasil insiste em culpar os outros pelos problemas internos do país. Quando fizer amanhã o discurso de abertura do debate anual da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, a presidente Dilma Rousseff vai insistir no argumento furado de que os países ricos estão fazendo um "tsunami financeiro" ao jogar dinheiro no mercado para estimular suas economias.
Na semana passada, o medíocre ministro Guido Mantega alegou que as políticas de alívio quantitativo, compra de títulos para colocar mais dinheiro em circulação, não dão resultado. Só serviriam para desvalorizar o dólar.
Os números da maior economia do mundo desmentem essa visão distorcida politicamente. Em primeiro lugar, apesar de enfrentarem sua pior crise em 70 anos, os Estados Unidos devem terminar o ano com um crescimento do produto interno bruto superior ao do Brasil. E o desemprego nos EUA vem caindo, não no ritmo em que o governo Barack Obama gostaria, mas está diminuindo.
Mantega deveria ter ligo Ensaios sobre a Grande Depressão, de Ben Bernanke, presidente da Reserva Federal (Fed), o banco central dos EUA. Sem condições de baixar mais as taxas nominais de juros, que estão em praticamente zero, só resta ao governo americano imprimir mais dólares para reduzi-las na prática.
No mais, Dilma vai insistir na retórica vazia em relação à guerra civil na Síria, rejeitando em nome do princípio da soberania nacional uma intervenção militar estrangeira, única maneira de obrigar a ditadura de Bachar Assad a parar de matar seu próprio povo.
Seu argumento parte da análise equivocada de que a intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na guerra civil na Líbia foi excessiva. Na prática, a ação militar liderada pelos Estados Unidos, a França e o Reino Unido salvou milhares de vidas que estariam ameaçadas em caso de vitória do ditador Muamar Kadafi.
O símbolo mais eloquente da gratidão líbia foi a manifestação de protesto da sexta-feira passada em Bengázi, a segunda maior cidade do país, contra a milícia responsável pelo ataque ao Consulado dos Estados Unidos que matou o embaixador Christopher Stevens. A milícia foi literalmente expulsa da cidade.
Bengázi estava prestes a ser arrasada quando a OTAN entrou na guerra civil líbia. O embaixador americano era visto como um aliado do povo da Líbia e da revolução. Mas o governo brasileiro está mais interessado em marcar posição contra as grandes potências do que em apoiar medidas concretas que protejam as populações atacadas por ditadores.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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