sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Ben Laden acusa EUA de errar como URSS no Afeganistão ao não sair logo do Iraque

Em mensagem de vídeo de 30 minutos divulgada hoje pela TV árabe Al Jazira, o líder terrorista Ossama ben Laden acusou o governo dos Estados Unidos de repetir o erro cometido pela União Soviética no Afeganistão ao não retirar suas forças no Iraque, numa insinuação de que a vitória americana é impossível. Propôs que os americanos se convertam ao islamismo.

"Povo americano, o mundo está acompanhando o noticiário sobre sua invasão do Iraque", disse o terrorista saudita. "Depois das várias tragédias desta guerra, a imensa maioria de vocês quer pará-la. Então, vocês elegeram o Partido Democrata com este propósito, masos democratas não tomaram nenhuma medida que valha a pena mencionar. Ao contrário, continuaram concordando em gastar dezenas de bilhões para continuar a matança."

Ben Laden parece mais gordo. Sua barba foi aparada e tingida de preto. Isso provocou uma discussão nos fóruns de jihadistas na Internet questionando se o islamismo permite aparar a barba.

Para o professor Bruce Hoffman, da Universidade Georgetown, nos EUA, esta mudança de imagem reflete uma necessidade de se camuflar, de se apresentar como um mutante capaz de iludir o inimigo. Já Mohammed Hafez, professor convidado da Universidade de Missouri, vê Ben Laden tentando falar diretamente ao povo americano, por cima de seus dirigentes, republicanos e democratas, que nas suas palavras nada fazem para acabar com a guerra no Iraque.

Com suas visões conspiratórias, Ben Laden vê a mão invisível das grandes empresas multinacionais, que na sua opinião estariam se beneficiando com a guerra, numa interpretação mais para marxista revolucionária do que islâmica.

Este é o verdadeiro Ossama, um guerrilheiro messiânico que mistura o Corão doutrinas revolucionárias, a exemplo do que o aiatolá Khomeini fizera na revolução islâmica no Irã, e usa as mais modernas tecnologias para lutar por um puritanismo extremado que mais representa a volta a um passado idealizado que nunca existiu.

Da mesma forma que os marxistas, Ben Laden culpa o capitalismo e a democracia liberal para males do mundo, e adota a interpretação leninista de que esses sistemas são intrinsecamente corruptos e militaristas. Kennedy "poderia ter encerrado a Guerra do Vietnã, não fosse o complexo industrial-militar".

Na sua visão simplista da História, o líder do grupo responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001 sugere que os judeus teriam escapado do Holocausto se tivessem pedido proteção aos muçulmanos, como se árabes e judeus não estivessem se matando no Oriente Médio já naquela época, entre outras razões por causa da crescente imigração de judeus que fugiam do nazismo mesmo antes do início da Segunda Guerra Mundial.

A última aparição de Ben Laden em vídeo tinha sido há quase três anos, antes das eleições americanas de novembro de 2004. Ele falou de temas recentes, como as eleições muncipais na Grã-Bretanha e as eleições presidenciais e legislativas na França.

Ao abordar uma variedade tão grande de temas, Ossama parece muito empenhado ter opinião e dar palpite sobre tudo. Isso indica um desejo de reassumir o controle de um movimento que ele lançou mas que hoje está nas mãos de milhares de militantes fanáticos cada vez mais autônomos. Refugiado nas montanhas da fronteira do Paquistão com o Afeganistão, onde se acredita que ele esteja, Ben Laden está distante da jihad cotidiana.

Em certo sentido, observa o professor Mohammed Hafez, "o que Ben Laden está tentando realmente fazer é pegar temas de Ahmadinejad e Chávez, isto é, tentar retratar a América como uma potência hegemônica agressiva que não se preocupa com questões como, por exemplo, o meio ambiente e o aquecimento global. Essencialmente, está dizendo ao mundo: vocês devem ficar longe dos EUA, não devem cooperar com os EUA, aí estarão seguros. Esta é a mensagem".

Ao mesmo tempo, está tentando apelar para uma subcultura jovem, sobretudo na Europa, onde jovens têm se convertido ou Islã ou pode ser convertidos, uma juventude antiglobalização, anti-hegemônica, antiimperialista e anticapitalista.

A mensagem pode ter sido calibrada para ter apelo junto a um público maior, incluindo não apenas os jihadistas tradicionais, no caso, jovens muçulmanos que se sentem discriminados na Europa, mas também jovens que possam se converter ao islamismo.

Ossama mencionou Arrogância Imperial: Por Que o Ocidente Está Perdendo a Guerra contra o Terror?, do livro do ex-analista da CIA Michael Scheuer, e recomendou a leitura de Noam Chomsky mas não do profeta Maomé ou de Saïd Kutub, egípcio, o ideólogo do jihadismo universal, defensor da idéia de que o mundo só terá paz quando todos estiverem convertidos ao verdadeiro Deus.

Mais uma vez, Ben Laden assume, desta vez claramente, a responsabilidade pelos atentados terroristas contra os EUA ao dizer que os americanos não podem negar sua culpa pelas mortes no Iraque: "Seria o mesmo se eu negasse que derramei o sangue de seus filhos."

Nos últimos dois anos, quando Ben Laden não mandou mensagens de vídeo, ele foi superado por seu lugar-tenente, o médico egípcio Ayman al Zawahiri. Nesse período, Zawahiri divulgou mais de 30 mensagens de áudio e vídeo, quadruplicou o braço de mídia d'al Caeda e teria sido o responsável pelo ressurgimento da rede terrorista depois da queda dos talebã no Afeganistão.

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