Espiões russos infiltrados no sistema de defesa dos Estados Unidos passaram informações sobre movimento de tropas e planos de ataque para o ditador Saddam Hussein antes e durante a invasão americana ao Iraque iniciada em 20 de março de 2003, revela um documento divulgado na sexta-feira pelo Departamento da Defesa dos EUA.
Saddam foi alertado, por exemplo, de que os americanos não ocupariam cidades do interior do país, marchando diretamente para Bagdá. Os dados foram obtidos no comando militar americano em Doha, no Catar, e comunicados ao governo iraquiano pelo embaixador russo no Iraque, como mostra um documento iraquiano de 25 de março de 2003.
"Isto não faz nenhum sentido", protestou Maria Zakharova, porta-voz russa nas Nações Unidas, negando as alegações.
Mais grave ainda, em 2 de abril, os russos avisaram que os EUA estavam concentrando forças, 12 mil soldados e mil veículos, perto da cidade de Carbalá para isolar Bagdá. De fato, a 3 Divisão do Exército dos EUA estava atravessando uma estreita faixa de terra onde esperava feroz resistência da Guarda Republicana do Iraque e temia ataques com armas químicas e biológicas. Os comandantes iraquianos, entre eles Kusay Hussein, filho de Saddam, não deram importância.
Durante a Guerra Fria, o Iraque era aliado da União Soviética. Mas quando Saddam Hussein o Irã em 22 de agosto de 1980, recebeu o apoio dos EUA e de seus aliados ocidentais, da URSS e do mundo árabe na luta contra a república islâmica fundada no ano anterior pelo aiatolá Ruhollah Khomeini A Guerra Irã-Iraque durou oito anos e matou mais de 1 milhão de muçulmanos.
Saddam tornou-se inimigo dos EUA ao ocupar o Kuwait em 2 de agosto de 1990, depois de exigir sem sucesso o perdão de dívidas de guerra e maior parcela do petróleo de um campo comum entre os dois países. De 17 de janeiro a 28 de fevereiro de 1991, uma aliança de 28 países articulada pelo então presidente George Bush, sênior, derrotou o Iraque e libertou o Kuwait numa guerra aprovada pela ONU com voto a favor da URSS.
Como imposição do cessar-fogo, o Iraque ficou proibido de ter armas de destruição em massa (nucleares, químicas e biológicas) e mísseis de médio e longo alcances. Submetido a sanções da ONU, nunca ficou claro se havia mesmo se livrado das armas proibidas. Saddam expulsou os inspetores da ONU várias vezes, a última em dezembro de 1998, depois de um bombardeio americano ao Iraque.
Em 8 de novembro de 2002, preparando a invasão, os EUA conseguiram a aprovação do Conselho de Segurança da ONU para a retomada das inspeções. Só em dezembro de 2002, sob forte pressão americana, Saddam declarou que não tinha mas armas de destruição em massa nem programas para desenvolvê-las.
Naquela época, os EUA já tinham tomado a decisão de derrubá-lo mas a França, a Rússia e a China, três potências com assento permanente no CS, ameaçaram vetar o uso da força. Os EUA ignoraram a ONU, abalando o prestígio da instituição. Pelo menos um país que votaria contra a guerra, a Alemanha, forneceu informações que ajudaram os EUA. Agora sabe-se que a Rússia tentou salvar seu antigo aliado e parceiro comercial.
"Não vejo nenhuma aberração", comentou o coronel Kevin Woods, diretor do Projeto Perspectivas Iraquianas, um documento de 210 páginas. "É uma consequência do engajamento econômico. Não vejo razão para duvidar do documento iraquiano".
Já Michael O'Hanlon, especialista em defesa da Brookings Institution, considerou uma traição russa e disse que os EUA devem pedir explicações oficiais ao Kremlin.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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Um comentário:
é isso ae Russia, acaba com esses vermes
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