quinta-feira, 21 de junho de 2007

Ditadura militar argentina foi genocida, diz Itália

A última ditadura militar da Argentina (1976-83) realizou "um verdadeiro genocídio" tendo como pretexto a Guerra Fria, com o apoio dos Estados Unidos e o silêncio da Igreja Católica, conclui a Justiça da Itália em sentença proferida ontem em Roma.

No processo, os ex-oficiais argentinos Jorge Eduardo Acosta, Alfredo Ignacio Astiz, Jorge Raúl Vildoza, Antonio Vañek e Héctor Antonio Febrés foram condenados à prisão perpétua à revelia pelo desaparecimento dos italianos Angela María Aietta Gullo, Giovanni Pecorato e sua filha Susana.

"A instrução abundante permitiu confirmar judicialmente aquilo que, de outra parte, era já bem conhecido historicamente: que entre 1976 e 1983 se instaurou na Argentina uma feroz ditadura militar que, com o pretexto de combater a guerrilha e frear a difusão de idéias marxistas, levou a cabo com métodos desumanos um verdadeiro genocídio", afirma a sentença.

Em 96 páginas, o tribunal de Roma faz um relato histórico dos fatos desde alguns anos antes do golpe de 24 de março de 1976
até o fim da ditadura, em 1983, depois da humilhante derrota na Guerra das Malvinas, em 1982.

O juiz italiano faz um paralelo entre a "ostentatória" ditadura militar chilena do general Augusto Pinochet, que começou três anos antes com "o inútil e espetacular bombardeio do palácio de La Moneda", e a "silenciosa, dissimulada e científica" ditadura argentina: "A perseguição política foi clandestina, sem caminhões nem blindados. Buenos Aires parecia uma cidade tranqüila onde a vida prosseguia normalmente, a tal ponto que, pelo menos no princípio, [a ditadura] foi acolhida com alívio por parte da sociedade argentina e até mesmo por parte da imprensa democrática (Le Monde e Washington Post)".

A sentença, que deve ser publicada em livro, acusa a própria Itália de não receber "nenhum refugiado em sua embaixada" em Buenos Aires. "Também foram graves as decisões do Vaticano e da hierarquia da Igreja argentina".

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