segunda-feira, 21 de julho de 2014

Israel apostou no conflito para atacar o Hamas

Em meio a mais uma guerra no Oriente Médio, a questão que se coloca é quem tem responsabilidade por mais uma matança entre israelenses e palestinos. Vamos aos fatos e a uma tentativa de interpretá-los:

1. Três adolescentes israelenses foram sequestrados e mortos em junho de 2014 na Cisjordânia ocupada por terroristas palestinos.

2. Por vingança, um adolescente palestino foi sequestrado e queimado vivo por colonos no setor oriental (árabe) de Jerusalém, progressivamente colonizado por Israel na política de tornar a ocupação um fato consumado e irreversível.

3. O governo linha-dura de Israel acusou coletivamente o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) sem apresentar provas concretas, alegando que o grupo aplaudiu os assassinatos. Punição coletiva é crime previsto no direito internacional. Os nomes de dois militantes foram citados como responsáveis. Mais de 500 membros do Hamas foram presos. Na minha visão, é evidente que o primeiro-ministro Netanyahu aproveitou o sequestro para atacar o Hamas, bombardear o acordo de reconciliação nacional entre a Fatah e o Hamas, e assim minar o processo de paz mediado pelos EUA, que ainda me parece a melhor solução para o fim do conflito, com a criação de um Estado nacional palestino convivendo pacificamente com Israel.

4. Sem outra arma para atingir Israel, o Hamas e aliados começaram a lançar foguetes de Gaza no início de julho. É óbvio que Israel tem o direito de se defender, mas essa estratégia de defesa em que a cada dois anos ou quatro anos Israel invade Gaza e massacra a população local evidentemente não funciona. Não garante a segurança de Israel a longo prazo. Mas o governo Benjamin Netanyahu não vê os palestinos como uma ameaça à existência de Israel. Afinal, eles não têm Estado nacional, Exército, Forças Armadas etc. Sua obsessão é com o programa nuclear do Irã. Tem razão ao temer a bomba iraniana, mas a paz com os palestinos tiraria um importante instrumento de propaganda dos terroristas interessados em destruir Israel.

5. Assim, parece evidente que este governo de Israel não quer a paz com os palestinos. Dois importantes ministros e líderes de partidos de extrema direita, o chanceler Avigdor Lieberman (Israel Nossa Casa) e o ministro da economia, Natali Bennett (Casa Judaica) defendem abertamente a reocupação de Gaza, que incorporaria mais 1,8 milhões de árabes à população israelense. Em futuro breve, os judeus seriam minoria em Israel.

6. Placar atual da mortandade: 545 palestinos e 27 israelenses mortos.

7. O risco para Israel, numa região em que proliferam grupos jihadistas como o Estado Islâmico, Jihad Islâmica e a Frente al-Nusra, é que a destruição do Hamas crie um vácuo político no movimento fundamentalista capaz de ser ocupado por jihadistas aliados da rede terrorista Al Caeda ainda mais radicais. A Jordânia já pediu ajuda militar a Israel, caso seja atacada pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Dá para imaginar o Exército de Israel lutando ao lado de um Exército árabe contra extremistas muçulmanos? Se isso realmente acontecer algum dia, será melhor para Israel ter feito a paz com os palestinos antes.

8. O conflito foi sequestrado por extremistas dos dois lados sem interesse na paz. A atual guerra é um exemplo disso. Dois sequestros bárbaros e cruéis evoluíram para uma confrontação muito maior.

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