Como não sentir o complexo de vira-lata depois de levar 7-1 da Alemanha, que nem vinha jogando tão bem assim, fez jogo duro com Gana, EUA, Argélia e França, na semifinal da Copa organizada no Brasil para o país ser hexacampeão?
A seleção revelou problemas corriqueiros da sociedade brasileira: arrogância, incompetência, amadorismo, autossuficiência, falta de planejamento e má gestão. Não é uma questão de "não amar o Brasil". É não se conformar com a burrice, a ignorância, o atraso e o subdesenvolvimento crônico que o país não consegue vencer.
Uma derrota por até três gols de diferença seria aceitável. Faz parte do jogo. É da vida. Seis, na campanha do hexa, foi demais. O Brasil tem de olhar para o resto do mundo, aprender com os próprios erros, e os erros e acertos dos outros. Onde foi a soberba do "estamos com a mão na taça"? Parafraseando o inimitável, insubstituível e inesquecível Mané Garrincha, esqueceram de combinar com os alemães.
Não dá para achar normal o país pentacampeão levar 7-1 em casa numa semifinal de Copa do Mundo no Brasil. É muita vira-latice. É hora de ser humilde, analisar os erros e trabalhar muito para dar a volta por cima.
A culpa não é só do Felipão, embora ele seja responsável pela convocação, a escalação e a tática suicida de jogar contra a Alemanha com apenas três no meio-campo. Deveria ter pedido demissão imediatamente. Toda a estrutura do futebol brasileiro precisa ser modernizada. Onde está a pressão da imprensa para derrubar José Maria Marin e Marco Polo del Nero da presidência da CBF?
A sociedade brasileira como um todo tem muito a aprender com os erros da seleção.
O Brasil não foi competitivo em campo como não tem sido na economia. O crescimento previsto para este ano é de 1%. A inflação estourou o limite superior da meta, passou de 6,5%, talvez por efeito da Copa. A produção de automóveis deve cair 10% em 2014. É a desindustrialização em marcha.
As questões centrais do atraso não estão sendo atacadas. A revolução educacional para vencer o subdesenvolvimento é muito citada como necessária nos setores público e privado. Na prática, somos regularmente derrotados e humilhados nas olimpíadas de educação.
Os salários e as condições dos professores estão anos-luz atrás de uma vida digna dedicada à cultura e ao saber. As empresas não investem em educação. O conhecimento acadêmico não tem valor. Há livros didáticos com doutrinação ideológica a ponto de louvar Maximiliano Robespierre e o período do terror na Revolução Francesa.
Quando se fala em combate à corrupção, a desculpa é que em todo lugar é assim. É, mas o ex-presidente da França François Sarkozy foi detido para interrogatório e está sendo processado por escuta clandestina e obstrução de justiça. Na Alemanha, o presidente do Bayern de Munique foi condenado à prisão por fraude fiscal. O ex-prefeito de Nova Orleans, nos Estados Unidos, Ray Nagin foi condenado nesta semana a 10 anos por receber centenas de milhares de dólares de propina nas obras de reconstrução da cidade depois do furacão Katrina.
Aqui, o julgamento do Mensalão foi, como observou um ministro do Supremo Tribunal Federal, "um ponto fora da curva", uma exceção à regra. Não conseguimos prender nem os políticos que não podem sair do país porque há mandados internacionais de prisão contra eles. Não é o caso de se sentir como um vira-lata?
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