Depois de infectar pelo menos 1.021 pessoas e de matar 672 desde março de 2014 na África Ocidental, a maior epidemia da febre hemorrágica ebola registrada até hoje ameaça a Nigéria, país mais populoso do continente, com 177 milhões de habitantes. Sem vacina nem tratamento, a única saída é isolar os doentes e tentar controlar os sintomas da fase aguda.
A situação é mais grave na Guiné, onde começou o surto, na Libéria e em Serra Leoa. Com a morte em Lagos, maior cidade do continente, com 20 milhões de habitantes, de um liberiano de 40 anos que esteve em Lomé, capital do Togo, soou o alarme. O risco de contágio chegou à Nigéria. Todos os portos e aeroportos foram colocados em estado de alerta.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Cruz Vermelha Internacional, o Crescente Vermelho e a organização não governamental Médicos sem Fronteiras (MsF), o maior surto da história da doença desde a descoberta do vírus ebola, em 1976, virou uma "epidemia regional" e assim deve ser combatido e contido.
Apesar de ter se tornado o país mais rico da África, superando a África do Sul ao mudar a metodologia de cálculo do produto interno bruto para incorporar novos setores da economia, a Nigéria tem infraestrutura e os serviços de saúde pública precários e mal financiados.
O Ministério da Saúde nigeriano declarou que o morto não teve tempo de circular entre a população de Lagos para transmitir o vírus. Os outros passageiros e os tripulantes que voo que o levou ao país estão sendo alertados e examinados.
Por orientação da OMS, a Nigéria não fechou suas fronteiras para tentar barrar a entrada do vírus. A agência da ONU considera a medida, tomada domingo pela Libéria, "contraproducente e totalmente ineficiente".
Todas as capitais dos países atingidos registram casos, sinal de que a epidemia pode se propagar rapidamente. No domingo, uma cabeleireira de 32 anos tornou-se a primeira vítima de Freetown, a capital de Serra Leoa. Conacri, na Guiné, e Monróvia, na Libéria, já tiveram suas mortes.
O vírus ebola é transmitido pelas secreções humanas, não pelo ar, mas pelo contato físico, o que facilita muita o contágio desta doença fatal em quase 90% dos casos.
"Como não existe nenhum tratamento propriamente dito nem vacina, é essencial acompanhar as pessoas que tiveram contato com mortos ou doentes", comentou o epidemiologista Michel van Herp, dos MsF. "Esse contato pode ser em massa em funerais comunitários nas aldeias, especialmente na Libéria e em Serra Leoa."
Todo o mundo que teve contato com mortos ou doentes deve ser observado durante três semanas. Depois desse período, se a pessoa não tiver febre alta, diarreia, vômitos e grande cansaço, os sintomas da doença, não precisa mais ser acompanhada.
Dois americanos foram infectados na Libéria. Um é médico. Trabalha para a instituição beneficente evangélica Bolsa do Samaritano. A outra é uma mulher que trabalha num hospital de caridade.
Em Kenema, em Serra Leoa, 15 funcionários dos serviços de saúde pegaram a doença e morreram, o que provocou greves e protestos de médicos e enfermeiros. Equipes dos MsF foram atacadas no interior da Guiné por pessoas que acusam profissionais de saúde de levar a doença para suas aldeias.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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