Milhares de pessoas protestaram na Turquia hoje contra a decisão do Supremo Tribunal de Justiça do país de anular a lei que permitia o uso do véu islâmico pelas mulheres em universidades, alegando que é contra os princípios secularistas da república turca.
A decisão aprofunda uma crise institucional entre o governo islamita moderado, que tem ampla maioria no parlamento e o apoio da maior parte da população, e as instituições do Estado turco, como a Justiça e as Forças Armadas.
O procurador-geral pediu a extinção do governista Partido da Justiça e Desenvolvimento e a suspensão dos direitos políticos do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan e do presidente Abdullah Gül por cinco anos. Se o julgamento do véu for uma pista para a decisão do Supremo sobre o governo, a crise pode piorar ainda mais.
Quando fundou a República da Turquia, em 1923, o general Mustafá Kemal Ataturk, o Pai dos Turcos, depois da dissolução do Império Otomano no fim da Primeira Guerra Mundial, separou constitucionalmente a religião dos negócios de Estado, algo comum nos países democráticos do Ocidente.
Na Turquia, é o contrário. O país teve longas ditaduras militares e a oposição democrática tradicionalmente era muçulmana. Agora os islamitas moderados estão no governo, mas o poder ainda está com os militares, guardiães do kemalismo, dos ideais e do sonho de Mustafá Kemal Ataturk.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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