Para reconquistar a credibilidade abalada pela longa crise com os produtores rurais, a presidente Cristina Kirchner prometeu enviar ao Congresso da Argentina um projeto de lei com a escala móvel do imposto sobre exportações agrícolas, que faz as alíquotas subirem junto com a alta no mercado internacional.
Mas o governo tem ampla maioria no Congresso. Os ruralistas ainda não sabem se terão algo a ganhar com isso. O governo quer transformar o protesto nas ruas e estradas em debate parlamentar. Quer retomar seu direito de governar.
Em cinco anos de governo Kirchner - primeiro de Néstor Kirchner e, desde dezembro do ano passado, de sua mulher Cristina Kirchner - raramente o Executivo recorreu ao Congresso para aprovar as medidas, observam analistas como Jorge Castro, do grupo mais liberal da direita peronista ligada ao ex-presidente Carlos Menem.
Castro, que sria ministro das Relações Exteriores se Menem derrotasse Kirchner em 2003, vê no recurso ao Congresso um primeiro sinal de fraqueza política do casal.
A realidade é que caciques peronistas, especialmente o ex-presidente Eduardo Duhalde, que indicou Kirchner e foi atropelado por ele, estão gostando do desgaste do casal Kirchner depois de 98 dias de crise no campo.
Duhalde foi vice no primeiro governo Menem (1989-95) mas rompeu com Carlitos. Foi o candidato peronista em 1999 e perdeu para Fernando de la Rúa, derrubado pela revolta popular com o colapso, em 2001, da dolarização que De la Rúa herdara de Menem.
Na convulsão em que a Argentina teve vários presidentes em poucos dias, o nome de Duhalde surgiu como o mais indicado para governar por um mandato-tampão, na verdade, para concluir o mandato interrompido de De la Rúa. Duhalde iniciou o processo de estabilização da Argentina.
Em plena crise, seria impossível organizar eleições. Duhalde foi o homem da transição e indicou ao Partido Justicialista o então governador da província de Santa Cruz, na Patagônia, Néstor Kirchner como candidato à Casa Rosa para impedir a volta de Menem.
Com o colapso da União Cívica Radical depois dos governos incompletos de Raúl Alfonsín (1983-89) e De la Rúa (1999-2001), o peronismo voltou a ter a hegemonia da política argentina.
A luta é entre peronistas de diversas correntes, como Kirchner x Menem. Mas na briga Duhalde x Kirchner, aí a luta já é pelo controle da ala mais à esquerda do movimento peronista, um quer ocupar o lugar do outro. Não há um debate ideológico. É uma luta pelo controle da máquina do partido.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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