A Índia deve iniciar em breve negociações com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para abrir seu programa nuclear a inspeção internacional e cumprir um acordo assinado com os Estados Unidos. Mas isto deve provocar uma ruptura entre o Partido do Congresso e os comunistas, que se opõem à medida, a queda do governo de coalizão e a realização de eleições antecipadas.
Os partidos comunistas que integram a Aliança Progressista Unida, liderada pelo Partido do Congresso, de Sonia Gandhi e do primeiro-ministro Manmohan Singh, advertiram que haverá "sérias conseqüências" se o acordo de salvaguardas assinado com os EUA for aplicado. Mas o diretor-geral da AIEA, Mohamed el Baradei, chegou ontem à noite a Nova Déli para acertar detalhes das inspeções.
No domingo, Sonia Gandhi, a viúva do primeiro-ministro Rajiv Gandhi, atacou a esquerda como reacionária por se opor ao acordo nuclear firmado com o governo George Walker Bush, que pretende vê-lo totalmente implementado até o final de 2008: "Não são inimigos apenas do Partido do Congresso. São inimigos da paz e do desenvolvimento. Precisamos nos dar as mãos para lhes dar a resposta adequada".
Ela parece tranqüila porque o Partido Bharatiya Janata (BJP), o maior da oposição, nacionalista hindu, está em crise. Acaba de escolher o ex-vice-primeiro-ministro L.K. Advani, de 80 anos, como novo líder.
A esquerda alega que a Índia está abrindo mão de sua "política externa independente". Desde a independência, em 1947, rejeita todos os acordos e tratados que considera injustos, inclusive o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), que criou países nucleares e não-nucleares. Durante a Guerra Fria, manteve o não-alinhamento.
Depois da derrota para a China, num conflito de fronteiras, em 1962, a Índia começou a desenvolver armas atômicas, passando a considerar seriamente a necessidade da dissuasão nuclear. Explodiu sua primeira bomba em 1974, no governo Indira Gandhi, mãe de Rajiv, mas só assumiu o status de potência nuclear sob o BJP, em 1998.
Apesar dos protestos iniciais do governo Bill Clinton, logo os EUA passaram a dar à Índia o reconhecimento de potência nuclear, aliada em potencial para conter a China. Bush negociou o acordo que está sendo implementado agora, que de modo algum afeta ou reduz a capacidade nuclear indiana. Precisa ser ratificado pelo Congresso dos EUA para permitir cooperação e negócios na área de tecnologia nuclear para fins pacíficos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário