O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o embaixador egípcio Mohamed ElBaradei, considerou na segunda-feira "lamentável" que o Irã não tenha suspendido o enriquecimento de urânio e a construção de um novo reator nuclear. Cabe ao Irã, alertou ElBaradei, resolver o conflito abrindo seu programa nuclear a inspeções internacionais para dissipar suspeitas.
A AIEA, órgão da ONU, está na terceira rodada de negociações com o Irã em torno das centrífugas P-1 e P-2, usadas para enriquecer urânio. Em baixos teores, o urânio enriquecido em baixos teores serve para produção de energia; em alto grau, vira carga de bomba atômica de urânio, como a de Hiroxima. O Irã também está fazendo um reator nuclear para produzir plutônio, carga da bomba de Nagasaque.
No domingo, em defesa da solução diplomática, ElBaradei alegou não ter provas de que o Irã está desenvolver armas nucleares. Quando visitei a agência, em Viena, em 1998, disseram que o Irã estaria desenvolvendo um programa nuclear, e não o Iraque. Não havia indícios contra Saddam Hussein, como o diretor-geral da AIEA deixou claro em seus depoimentos ao Conselho de Segurança das Nações Unidas nas audiências sobre as inspeções internacionais no Iraque.
Em novembro, ElBaradei apresentará relatório ao Conselho de Segurança sobre o programa nuclear iraniano. Sua declaração pede abertura. É improvável que o Irã concorde em abrir suas instalações nucleares.
O presidente Mahmoud Ahmadinejad está sendo acusado de todos os lados pela crise econômica, o que o enfraquece politicamente. Mas o projeto nuclear é uma decisão estratégica. Começou por ordem do aiatolá Ruhollah Khomeini, em 1987.
Khomeini era contra a bomba atômica, que considerava antiislâmica, por matar todos indiscriminadamente. Mudou de idéia durante a Guerra Irã-Iraque, quando o país era arrasado na 'guerra das cidades'.
Então o mais provável é que o Irã negocie para ganhar tempo, sem real intenção de abrir mão de um programa estratégico para o regime dos aiatolás.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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