No editorial 'Nova Presidente, Velho Ciclo', o jornal americano de Washington Post acusa o casal Kirchner de práticas antidemocráticas e o acusa de não ter aprendido as duras lições da História da Argentina.
O Post admite que Cristina Fernández de Kirchner foi eleita por causa do aumento da renda da maioria dos argentinos nos últimos quatro anos. Comenta que a situação do país é bem melhor que na vez anterior em que uma mulher sucedeu ao marido na Casa Rosada.
Em 1974, com a morte do general Juan Domingo Perón, a viúva, María Estela Martínez de Perón, a Isabelita, assumiu a presidência da Argentina em meio a uma catástrofe econômica e uma guerra civil que levaram ao golpe militar de 24 de março de 1976.
"A democracia tem mais de um quarto de século, os militares estão confinados aos quartéis e os movimentos revolucionários violentos são uma lembrança distante. Mas a Argentina - e o partido peronista da Srª Fernández de Kirchner - ainda não aprenderam as lições da história do país. Isto pode tornar os próximos anos mais turbulentos", prevê o principal jornal de Washington.
"No século passado", prossegue o Post, "a Argentina viveu sob ciclos econômicos de euforia e depressão de acordo com os preços de suas exportações agrícolas, pela inclinação de seus governos por políticas populistas e por suas resistência em jogar pelas regras do mercado financeiro global. A euforia sob Kirchner seguiu-se ao colapso devastador de 2001, seguindo um padrão usual: foi alimentado pela alta nos preços da carne, do trigo e da soja da Argentina, da firmeza do Sr. Kirchner com os credores internacionais, grandes gastos públicos, e o controle dos preços de energia e de alimentos. O resultado previsível foi o desinvestimento no setor de energia, que já causou apagãos, e a inflação crescente, que provavelmente é duas vezes maior do que a estimativa oficial de 9% ao ano."
O casal K é acusado de manipular os índices de inflação e de pressionar os supermercados para eleger Cristina, "que fez campanha sem participar de um debate nem dar nenhuma entrevista coletiva à imprensa", constata o Post estarrecido com a democracia argentina.
"Ela pode", conclui o jornal, "usar seu mandato para administrar o remédio amargo que a economia precisa - inclusive altas de preços de energia e de juros, a valorização da moeda e a reconciliação com o Fundo Monetário Internacional, que dá o aval para a retomada do investimento estrangeiro. Ou ela pode seguir as políticas de seu marido até a próxima quebra. A Srª Fernández de Kirchner é uma política experiente com mais interesse no mundo exterior do que seu predecessor. Mas será uma grata surpresa se ela evitar repetir a História."
Leia a íntegra do editorial do Washington Post.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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