Às vésperas da eleição presidencial brasileira, a revista The Economist sai com matéria de capa perguntando quem lidera a América Latina: Lula ou Chávez?
Há quatro anos, quando foi eleito com uma biografia de líder sindical e retirante nordestino, sétimo filho de uma família pobre, Luiz Inácio Lula da Silva parecia ter a autoridade moral para ser o líder da América Latina, diz o Economist no seu principal editorial. Mas esta liderança vem sendo consistentemente minada pelo caudilhismo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que se apresenta como líder da esquerda latino-americana e herdeiro político de Fidel Castro, ideológo de um mal definido "socialismo do século 21", que não chega a propor um modelo de desenvolvimento mas é uma série de políticas sociais financiada pela renda do petróleo venezuelano.
Lula apresenta-se como capaz de exercer um poder moderador sobre Chávez. Mas diante das recentes viagens do líder venezuelano, em busca de contato com todos os adversários dos EUA, inclusive o presidente radical do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e o ditador da Bielorrússia, Alexander Lukachenko, fica evidente que Chávez corre em faixa própria.
Para a revista inglesa, Lula perdeu terreno por causa da corrupção, do crescimento medíocre da economia brasileira, que impede o país de ser a locomotiva da América do Sul e para a agressividade de Chávez: "Ele não é a voz mais forte que ecoa na América Latina, nem a mais à esquerda, mas, sim, Chávez, o presidente populista da Venezuela".
Ao defender o ingresso da Venezuela como representante temporária da América Latina no Conselho de Segurança das Nações por dois anos, Lula revela "ingenuidade na condução da política externa".
Qual foi a resposta de Chávez?, pergunta The Economist. "Ajudar a humilhar o Brasil na Bolívia" e "tentar sabotar os princípios da democracia e do livre mercado que são as bases do Mercosul".
Na minha opinião, Chávez e Fidel representam o passado, o caudilhismo e o populismo. Lula, apesar de todos os seus defeitos e dos inúmeros escândalos envolvendo seu governo, que são sinais evidentes de atraso político, representa o futuro da esquerda democrática na América Latina.
Quando fala da eleição na reportagem "Uma segunda chance para Lula", a revista recomenda "concentrar esforços para livrar o Brasil da armadilha de baixo crescimento" que deixa o país "muito atrás" das outras potências emergentes: China, Índia e Rússia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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