O Partido Liberal-Democrata, que governou o Japão quase ininterruptamente desde 1955, acaba de eleger seu novo líder: com 66% dos votos, Shinzo Abe sucede ao primeiro-ministro Junichiro Koizumi. Como o PLD tem maioria no Parlamento, na próxima terça-feira, ele será escolhido novo chefe do governo japonês.
Abe, de 52 anos, será o mais jovem primeiro-ministro japonês depois da Segunda Guerra Mundial. Ele não tem grande experiência administrativa. Foi apenas chefe do Gabinete, cargo que mistura as funções de porta-voz e chefe da Casa Civil, durante menos de um ano. Tornou-se popular ao negociar a libertação de japoneses seqüestrados pela Coréia do Norte, quando conquistou a fama de grande defensor dos interesses nacionais.
Uma de suas propostas é acabar com as restrições do artigo 9 da Constituição do Japão, imposta pelos EUA, que proíbe o país de realizar operações militares ofensivas. Diante da ameaça dos mísseis e do programa nuclear da Coréia do Norte, Abe quer que o Japão tenha o direito de fazer ataques preventivos.
Na política interna, Abe deve seguir as políticas de Koizumi, que assumiu em 2001 e conseguiu tirar o Japão da crise econômica que misturava deflação e estagnação desde o estouro da bolha especulativa do SuperJapão dos anos 80, em 1991. Koizumi cortou gastos para conter o aumento da dívida pública interna. Privatizou empresas públicas, inclusive o Correio, onde os japoneses depositam uma poupança de US$ 2 trilhões, e demitiu funcionários públicos.
O novo líder promete continuar controlando os gastos públicos e tentando aumentar a arrecadação de impostos através do crescimento econômico: "Não podemos parar com as reformas. Precisamos acelerar as reformas", declarou.
Será difícil substituir Koizumi, que atacou grandes interesses como os do setor financeiro, que resistiam às reformas, prolongando a crise. Mas na política externa, Abe pretende melhorar as relações com a China com a realização de uma reunião de cúpula entre os inimigos históricos do Leste da Ásia.
Koizumi costumava visitar o santuário de Yasukuni, uma homenagem aos heróis de guerra japoneses, no Centro de Tóquio, onde estão enterrados 14 notórios criminosos de guerra da Segunda Guerra Mundial. Cada vez que isto acontecia, havia protestos dos países invadidos pelo Japão no século passado, Coréia, China, Vietnã, Camboja, Indonésia e Malásia.
Ao contrário da Alemanha, o Japão nunca reconheceu seus crimes de guerra nem pediu perdão. Agora que a China se afirma como uma superpotência, a tensão entre os dois países aumenta. Mas eles têm interesses econômicos comuns como nunca. O extraordinário crescimento econômico chinês ajudou a tirar o Japão da crise.
Shinzo Abe pretende realizar um encontro de cúpula com as autoridades chinesas: "É lamentável que não haja encontros de cúpula entre os líderes da China e do Japão".
Calmo e controlado, Abe tem a confiança dos japoneses não apenas para manter a recuperação da economia mas também para melhorar as relações com a China, já que a interação destas duas grandes potências será decisiva para o futuro da região que mais cresce no mundo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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