Depois de 12 anos como líder e nove como primeiro-ministro, Tony Blair fez hoje seu último discurso líder numa convenção nacional do Partido Trabalhista, enquanto o ministro das Finanças e sucessor quase certo, Gordon Brown, posando como futuro primeiro-ministro, falou em tom conciliatório, elogiando "o mais bem-sucedido primeiro-ministro trabalhista britânico".
O partido terá saudade de Blair, o primeiro líder trabalhista a vencer três eleições consecutivas. Afinal, foi ele que acabou com 18 anos de governos conservadores, ocupando o centro do espectro político e empurrando os conservadores de tal modo para a direita que eles se tornaram inelegíveis, como era o Partido Trabalhista no início dos anos 80, na era Margaret Thatcher.
Em tom emocionado, Blair destacou os principais sucessos de seu governo na área social: redução na pobreza de velhos e crianças, salário mínimo, escolas e hospitais bem de finanças, perdão da dívida de países pobres, e o combate à doença e à privação na África - temas importantes para o partido, que rachou em protesto contra seu apoio incondicional às guerras do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, na luta contra o terrorismo. Se não foram grandes sucessos, pelo menos marcaram uma diferença em relação ao neoliberalismo radical dos conservadores, criando a chamada Terceira Via entre o neoliberalismo e a social-democracia clássica.
Foi este apoio a Bush que comprometeu Blair, obrigando-o a sair de cena antes do que gostaria, sob intensa pressão da opinião pública e especialmente da esquerda trabalhista.
Apostando na globalização, Blair e seu chanceler e provável sucessor conseguiram manter a competitividade da economia britânica, hoje a quarta maior do mundo. Sua mensagem de despedida é que o Partido Trabalhista, para se manter no poder, deve prosseguir realizando as reformas necessárias para preparar a Grã-Bretanha a enfrentar os desafios do mundo globalizado.
Depois de lutar furiosamente pelo poder e de encurralar o primeiro-ministro, o que lhe valeu uma crítica da primeira-dama, Cherie Blair, chamando-o de mentiroso, Brown trabalhou na convenção para unir o partido e evitar um desafio sério à sua liderança. Criticando o jovem líder conservador, David Cameron, Brown disse que uma pessoa reservada como ele entrou na política para fazer uma diferença: "Se a política fosse uma questão de imagem ou celebridade, não serviria ao público".
Brown prometeu maior descentralização administrativa, com mais poder para os municípios, e a criação de um fundo de US$ 20 bilhões para ajudar os países pobres a reduzir a emissão dos gases que provocam o aquecimento da Terra.
Mas a ovação a Blair foi tão grande que o primeiro-ministro estaria planejando ficar mais uns nove meses no poder. Brown terá de esperar mais um pouco.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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