A guerra do presidente George W. Bush contra o terrorismo é um fracasso, afirma o megaespeculador e filantropo George Soros, que lançou o livro A Era da Falibilidade: conseqüências da guerra contra o terrorismo.
O conceito está errado, sentencia Soros, em artigo publicado no jornal libanês The Daily Star: “Uma das fraquezas é que os alvos são terroristas mas as vítimas geralmente são civis, e seu sofrimento reforça a causa terrorista”.
Soros considera lógico que Israel queira neutralizar a capacidade militar da milícia fundamentalista xiita libanesa Hesbolá (Partido de Deus) para evitar incursões e ataques de mísseis contra seu território. Mas precisa tomar mais cuidado: “As vítimas civis e os danos materiais infligidos ao Líbano inflamaram os muçulmanos e a opinião pública mundial contra Israel, convertendo o Hesbolá de agressor em herói da resistência. Ao enfraquecer o Líbano, tornou mais difícil controlar o Hesbolá”, analisa Soros.
“Outra fraqueza do conceito da guerra contra o terror é se basear na ação militar, descartando uma abordagem políticas. Israel retirou-se do Sul do Líbano e da Faixa de Gaza unilateralmente, em vez de negociar acordos com o governo libanês a a Autoridade Nacional Palestina. O fortalecimento do Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) e do Hesbolá é conseqüência direta disso”, argumenta o empresário.
Um terceiro problema, na opinião de Soros, é que o conceito bushista da guerra contra o terror “junta movimento políticos diferentes que usam táticas terroristas. Não faz distinção entre o Hamas, o Hesbolá, Al Caeda, a insurreição sunita e a milícia chamada Exército Mehdi, no Iraque. Mas são manifestações terroristas diferentes que requerem respostas diferentes. Tanto o Hamas quanto o Hesbolá tem raízes profundas nas suas sociedades; mas também tem profundas diferenças entre si.”
Quando Israel saiu de Gaza, o ex-presidente do Banco Mundial James Wolfensohn negociou um plano de seis pontos em nome do Quarteto (EUA, Rússia, União Européia e ONU) que negocia a paz no Oriente Médio. Incluía a abertura de rotas de contato entre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, a abertura da fronteira dom o Egito, a transferência de estufas abandonadas por colonos israelenses para agricultura árabes. Nada foi feito, diz Soros.
Isto contribuiu para a vitória eleitoral do Hamas em 25 de janeiro deste ano. Mesmo assim, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, negociou a formação de um governo da união nacional com o Hamas. Foi o braço armado do Hamas, liderado por Khaled Mechal de Damasco, na Síria, que decidiu seqüestrar um soldado para provocar uma reação exagerada de Israel capaz de destruir o avanço no processo político.
Para Soros, a situação chegou a um ponto em que “a inquestionável superioridade militar de Israel não é mais suficiente para superar as conseqüências negativas” da política antiterrorista de Bush. “Israel está menos seguro hoje do que na época dos acordos de Oslo. E os EUA se tornaram menos seguros desde que Bush declarou guerra ao terrorismo”.
O financista acredita que “chegou a hora de entender que estas políticas são contraproducentes. Não vai haver um fim do círculo vicioso de escalada da violência sem uma solução da questão palestina”.
Como o povo palestino, cansado de guerra, quer a paz, Soros entende que o partido político do Hamas deve atender a este desejo. Ele propõe que Israel negocie com Abbas e um governo de união nacional dos palestinos. “O que está faltando é um governo dos EUA que não esteja cego pelo conceito da guerra contra o terror”.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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