quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Integração regional vive crise profunda

O processo de integração regional da América do Sul vive uma profunda crise. Os superávits comerciais que o Brasil tem com os países vizinhos reforçam a impressão de que o país é o grande beneficiário. Isto leva outros países da região a negociar acordos com os Estados Unidos na busca de um aumento maior do volume de comércio e de investimentos. O Mercosul fracassou, ao não mediar a ‘guerra das papeleiras’ entre Argentina e Uruguai, em parte por causa de sua baixa institucionalização. A nacionalização do petróleo e do gás na Bolívia incentivou os nacionalismos. E a entrada da Venezuela sob a presidência de Hugo Chávez não facilita esta institucionalização e ainda complica as negociações externas do bloco comercial.

Estas foram algumas das questões levantadas na mesa-redonda Desafios da Integração no Hesmifério: Mercosul, Comunidade Andina (CAN), Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), Nafta e ALCA, que encerrou o 3º Curso de Comércio e Negociações Internacionais para Jornalistas realizado no Rio de Janeiro pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e o Instituto de Estudos de Comércio e Negociações Internacionais (Ícone).

Se o Uruguai fechar um acordo preferencial de comércio com os EUA, como quer o governo Tabaré Vasquez, “a primeira vitima seria a negociação União Européia-Mercosul e a segunda o próprio Mercosul”, analisou o economista Roberto Fendt, diretor de várias empresas e associações empresariais, e professor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).

Fendt era diretor da extinta Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil (Cacex) quando Brasil e Argentina começaram o processo de integração, em 1985. Na época, havia duas preocupações:
- aumentar o volume de trocas
- e uma preocupação com segurança, que levou ao acordo nuclear.

“O Uruguai já foi parte do Brasil e o Paraguai recebeu o maior investimento do Brasil no exterior”, observou o professor. “Com o Mercosul, os países imaginavam ter acesso a mercados maiores que, crescendo, atuariam como locomotivas da integração”.

Ele constata que “o comércio cresceu mas houve problemas, como a falta de convergência macroeconômica e das políticas cambiais, que levaram a situações esdrúxulas”, com a desvalorização do real, em 1999, e o colapso da paridade dólar-peso na Argentina, em 2001.

A realidade hoje é que a África cresceu 5% ao ano nos últimos três anos, enquanto a América Latina, de modo geral, apresenta taxas de crescimento medíocres. E a percepção no subcontinente é que “o Brasil não pensa no desenvolvimento dos países vizinhos”.

Passados quinze anos da assinatura do Tratado de Assunção, que criou o Mercosul em 26 de março de 1991, “os uruguaios e também os paraguaios pensam nas vantagens de fazer acordos com os EUA.”.

Seria um duro golpe, comenta Fendt: “Não vejo como aprofundar o Mercosul, se o Uruguai fizer um acordo com os EUA”.

Por outro lado, “a consolidação da democracia no Cone Sul da América Latina torna o Mercosul [que evitou pelo menos três golpes de Estado no Paraguai] menos importante neste aspecto”, raciocina o professor.

No resto da América Latina, nota ele, “há uma profunda divisão em alguns países, como revelam os resultados das eleições na Bolívia, no Peru e no México”.

A entrada de Chávez no Mercosul “não ajuda a melhorar nossos problemas. Não estou dizendo que as coisas são piorar sistematicamente. Mas não estou dizendo que vão melhorar”, argumenta Fendt. “Não podemos fugir da realidade da formação de blocos regionais. Acredito que a razão no final prevalece. Há um grande volume de criação de comércio”.

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