Os acordos de comércio internacional são políticos mas a sociedade precisa percebê-los como positivos, afirmou a economista Lia Valls Pereira, pesquisadora do Ibre-FGV e professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), na mesa-redonda de encerramento do 3º curso de Comércio e Negociações Internacionais, realizado no Rio pelo Centro Brasileiro de Relações internacionais (Cebri) e o Instituto de Estudos de Negociações e Comércio Internaciona.
“Qualquer acordo é uma administração de comércio”, nota, acrescentando que "o setor industrial quer um acordo com os EUA".
Às vezes, os acordos servem para consolidar reformas, como foi o caso do México ao aderir ao Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta).
“Como então avaliar os acordos?”, questiona Lia Valls. “Há criação e desvio de comércio, e os efeitos dinâmicos, como economia de escala, especialização e aumento dos fluxos de investimento”.
O Brasil é o chamado ‘global trader’, seu comércio está bem distribuído por todas as regiões do mundo, sempre uma boa garantia contra crises nacionais:
- UE: 22%
- EUA 19%
- Mercosul: 9%
- Resto da América Latina: 9%
- Ásia: 15%
- China: 6,6% (menos que a Argentina, com 8,9%).
A pauta de exportações varia muito. Para a UE, 47% são produtos primários. Para os países da Aladi, excluindo os sócios do Mercosul, 85% são manufaturados; para o Mercosul, 90%.
“O setor industrial quer um acordo com os EUA”, declara Lia Valls.
Numa breve revisão histórica das iniciativas anteriores de integração sul-americana, a economista citou a criação, em 1969, da Associação Latino-Americana de Livre Comércio (Alalc).
A inspiração vinha da Comunidade Econômica Européia e do pensamento da Comissão Econômica para a América Latina. A proposta era: vamos nos unir e erguer barreiras para o resto do mundo. “Como fazer países com idéias protecionistas negociar a integração?”
Diante do veto dos EUA, que era contra o regionalismo econômico, que implica a imposição de barreiras para produtos do país dominante, só a Comunidade Européia foi em frente na primeira onda de regionalismo. O fim do veto americano vem em 1988, quando americanos e canadenses firmam um acordo de livre comércio. Com déficits comerciais crescentes, os EUA sentiam-se pressionados pela Europa e pelo Japão e tratavam de defender o único mercado onde ainda tinham saldo positivo.
Nos anos 90, há uma nova onda de regionalismo, ou neo-regionalismo. Hoje a Organização Mundial do Comércio registra mais de 300 acordos preferências de comércio adaptados às regras do sistema multilateral de comércio.
Como os países latino-americanos na defensiva desde que o presidente George Bush, pai lançara a Iniciativa para as Américas, em 1990, o governo Itamar Franco propôs, em 1993, a criação de uma Área de Livre Comércio da América do Sul.
Em 1994, na Cúpula das Américas em Miami, foi lançada a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A reação contrária provoca o debate sobre a integração.
Lia considera difícil promover a integração com superávit comercial: “Vendemos produtos industrializados. Compramos produtos minerais”.
O Mercosul foi relançado em 2000 e tem sérios problemas de infra-estrutura: “O custo do transporte atrapalha ao comércio.”
Em 2004, o Mercosul acertou uma integração com a Comunidade Andina para formar a Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa). Para Lia Valls, foi “mais uma jogada política com pouca substância”.
O Brasil perde com os acordos bilaterais firmados com os EUA por outros países da região, como Chile, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela. “Mas a realidade é que o Brasil pode fazer acordo com a CAN sem mudar sua política comercial. Com os EUA, é diferente.”
Na condição de debatedor, o economista Túlio Duran, comentou que um dos grandes problemas da integração regional na América é a assimetria, as diferenças de poder entre os países, a começar pelos EUA. Mas é ingenuidade supor que, excluídos os EUA, os outros têm alguma simetria: “O Paraguai tem o tamanho do Japão e a população do Rio. O patrimônio da Eletropaulo é igual ao de todo o sistema elétrico do Chile”.
Sem saída para o mar, a Bolívia e o Paraguai têm custos de transporte 60% maiores.
Além disso, só Uruguai e Brasil não têm problemas de fronteira. E só o Chile merece grau de investimento das agências de classificação de risco.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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