A União Européia decidiu dar mais duas semanas para que o Irã pare de enriquecer urânio e suspenda seu programa nuclear, suspeito de desenvolver armas atômicas. O Irã ignorou o ultimato dado pela Resolução 1.696 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que exigia a paralisação do programa até 31 de agosto. Os Estados Unidos querem que a ONU imponha sanções imediatamente. Mas diante da resistência da Rússia e da China, duas potências com poder de veto no Conselho de Segurança, a Europa resolveu dar mais uma chance à democracia.
Nas próximas duas semanas, o supercomissário de política externa da UE, o ex-chanceler espanho Javier Solana, deve se encontrar com autoridades iranianas. Deve conversar primeiro com o principal negociador iraniano para a questão nuclear, Ali Larijani. Vai pedir explicações sobre o documento de 22 páginas em que o Irã respondeu, em 22 de agosto, às propostas das cinco potência com direito de veto na ONU (EUA, China, Rússia, França e Reino Unido) e da Alemanha, com incentivos como ajuda para desenvolver tecnologia nuclear para fins pacíficos e associação à Organização Mundial do Comércio (OMC).
O Irã insiste em que seu programa nuclear não visa à fabricação de armas atômicas mas não abre suas instalações aos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica. No documento, propôs a realização de "negociações sérias" sem precondições. Para o governo americano, isto não passa de uma manobra para ganhar tempo suficiente para dominar o ciclo completo da tecnologia do urânio, o que permite fazer a bomba.
Há uma semana, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, inaugurou uma fábrica de água pesada, que pode ser usada para produzir plutônio, outro elemento que funciona como carga de bombas atômicas. Depois ele propôs um debate ao vivo na televisão com o presidente George W. Bush, rejeitado pelo governo dos EUA.
Em 31 de agosto, quando venceu o prazo do ultimato dado pela ONU para a suspensão do programa nuclear iraniano, Bush afirmou que "deve haver conseqüências". Mas o Irã, quarto exportador mundial de petróleo, com 10% das reservas mundiais, e a segunda maior reserva de gás natural do mundo, tem uma situação econômica privilegiada para resistir a sanções.
Uma das possíveis sanções é proibir a exportação de equipamentos para a indústria petrolífera iraniana. A república islâmica poderia reagir suspendendo suas exportações de petróleo, o que provavalmente jogaria o preço do barril para cerca de US$ 100. Uma recessão mundial seria inevitável.
Para fortalecer sua posição diplomática, o Irã negocia diversos acordos internacionais, revela um estudo do Departamento de Energia dos EUA. Além de um contrato de 25 anos e US$ 100 bilhões com a China para explorar suas reservas de gás natural, o regime dos aiatolás já fez acordos ou está negociando com a França, a Rússia, a Turquia, o Iraque, o Kuwait, o Turcomenistão, o Paquistão, a Índia, a Grécia, a Austrália, a Áustria, a Bulgária, a Hungria, a Romênia, a Ucrânia e a Noruega. Até mesmo uma subsidiária no exterior da companhia americana Halliburton, que foi presidida pelo vice-presidente Dick Cheney, teria fechado uma parceria com um sócio iraniano para explorar gás natural.
Se as opções diplomáticas fracassarem, diante da determinação de Bush de não permitir que o Irã tenha armas nucleares, há o risco de uma ação militar americana. Ninguém acredita numa invasão como a do Iraque, onde a violência se agravou muito nos últimos três. Os EUA poderiam tentar o chamado "bombardeio cirúrgico", atacando as instalações nucleares com o apoio de Israel, que se considera particularmente ameaçado porque o presidente iraniano, um radical, vive pregando a destruição de Israel.
Outro dia um general israelense, perguntando até onde Israel iria para evitar que o Irã se torne uma potência nuclear, respondeu: "Dois mil quilômetros". É a distância entre os dois países.
Mas o uso da força criaria uma crise internacional gravíssima, um novo choque capaz de elevar o preço do barril de petróleo para algo em torno de US$ 150 e talvez não fosse capaz de destruir o programa nuclear iraniano, já que as instalações estão espalhadas pelo país e algumas são subterrâneas.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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