Com o primeiro-ministro Thaksin Shinawatra em Nova Iorque, onde participa da Assembléia Geral das Nações Unidas, tanques cercaram a sede do governo da Tailândia, os chefes militares decretaram lei marcial e anunciaram que o autoproclamado Conselho da Reforma Administrativa assumira o poder sem resistência "para manter a paz e a ordem", e combater a corrupção. Eles pediram "a cooperação do público e perdão por eventuais transtornos".
Em discurso pela televisão, à noite, o comandante do Exército, general Sonthi Boonyaratkalin, prometeu devolver o poder aos civis "assim que seja possível".
À distância, Thaksin decretou estado de emergência. Ontem, em entrevista ao jornal The Wall St. Journal, o primeiro-ministro rejeitou a possibilidade de golpe de Estado, apesar dos rumores insistentes. Mas oficiais superiores já discutem com o rei a formação do novo governo.
Homem mais rico da Tailândia, o primeiro-ministro é acusado de abuso de poder para aumentar ainda mais sua riqueza, enquanto enfraquece a Justiça e outras instituições. Quando sua família vendeu sua participação na Shin Corporation, maior empresa de telecomunicações do país, para um grupo de Cingapura por US$ 1,9 bilhão sem pagar impostos, uma onda de manifestações de rua.
Thaksin reagiu dissolvendo o Parlamento e convocando eleições antecipadas, numa tentativa de recuperar a legitimidade. Mas a oposição boicotou a votação, em 2 de abril, que acabou sendo anulada pela Justiça por causa da elevada abstenção.
A crise política tailandesa vem no momento em que os antigos 'tigres' do Sudeste Asiático lutam para enfrentar o concorrência da China. Thaksin era elogiado pelos investidores estrangeiros por seus esforços para aumentar a competitividade da Tailândia. Mas a economia sentiu o peso da deterioração política. O crescimento caiu de uma taxa anualizada de 6,1% no primeiro trimestre para 4,9% no segundo trimestre deste ano.
Com a crise, negociações de liberalização comercial com os Estados Unidos e o Japão foram paralisadas. A tentativa de golpe abalou a moeda nacional, o baht, e a Bolsa de Bangcoc. Não se deve esquecer que a crise asiática de 1997 começou com a desvalorização do baht, em 2 de julho daquele ano. Isto não vai se repetir agora mas o mercado internacional sentiu o golpe, que gera novas incertezas.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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