À medida em que se aproxima a conferência anual do Partido Trabalhista britânico, marcada para 24 a 28 de setembro em Manchester, na Inglaterra, aumenta a pressão da ala esquerdista para que o primeiro-ministro Tony Blair marque a data para deixar a liderança do partido e do governo.
Logo após sua terceira vitória eleitoral consecutiva, em maio do ano passado, Blair declarou que não pretende concorrer a um quarto mandato como primeiro-ministro. Na opinião do magnata da mídia Rupert Murdoch, cometeu um erro fatal: tornou-se o que os ingleses chamam de um "pato manco", um político em fim de mandato que vai perdendo o poder já no início do seu terceiro governo.
É que em vez de consagrar Blair, sua terceira vitória, feito inédito para um líder trabalhista, foi marcada por uma perda de quase cem cadeiras na Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico. Isto se deu fundamentalmente ao apoio incondicional que o primeiro-ministro britânico dá aos Estados Unidos e a seu presidente, George Walker Bush, na "guerra contra o terrorismo".
A invasão do Iraque é extremamente impopular. Para 72% dos britânicos e 65% dos eleitores trabalhistas, a guerra do Iraque é um dos principais motivos pelo qual a Grã-Bretanha se tornou alvo do terrorismo
A esquerda trabalhista, que já era antiamericana, ficou ainda mais com a guerra e os atentados. Quer se livrar de Blair a qualquer custo. Mas é difícil que o provável sucessor de Blair na liderança do partido e do governo, o ministro das Finanças, Gordon Brown, mude esta política externa de alinhamento automático com os EUA, que é uma política de Estado do Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial.
Na última pesquisa eleitoral, feita pelo instituto ICM e publicada em 22 de agosto no jornal The Guardian, os conservadores estavam na frente com 40% dos votos. Os trabalhistas ficaram com 31% e o Partido Liberal-Democrata, com 22%. No sistema eleitoral britânico, que é de voto distrital com um só turno, estes percentuais dariam uma pequena maioria aos conservadores, tirando os trabalhistas do poder.
Mas o partido de Blair acha que, livrando-se de Blair, com Gordon Brown, pode dar a volta por cima. A relutância de Blair em sair enfraquece o partido num momento de avanço do Partido Conservador britânico, que se considera o mais bem-sucedido partido do Ocidente, agora sob a jovem liderança de David Cameron.
A aposta agora é que o mais bem-sucedido líder trabalhista britânico deixe o poder dentro de um ano, na primavera ou no verão do ano que vem no Hemisfério Norte. Corre o risco de sair desmoralizado, sem glória, por ter se metido com Bush no atoleiro do Iraque, onde a violência piorou nos últimos três meses. Talvez Blair esteja esperando o momento de sair por cima. Está difícil.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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