Mais um dos argumentos usados pelo governo George Walker Bush para justificar a invasão do Iraque foi derrubado pela Comissão de Inteligência do Senado dos Estados Unidos. A conclusão, que para muitos sempre foi evidente, é que o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein não tinha ligação com a rede terrorista Al Caeda.
Um relatório da Agência Central de Inteligência (CIA), o serviço de contra-espionagem dos EUA, de outubro de 2005, mas que só foi revelado agora, afirma que, antes da invasão, o regime de Saddam "não tinha qualquer relação ou fingia ignorar Abu Mussab al-Zarkawi [líder d'al Caeda no Iraque] e seus aliados".
O governo Bush alegava que Saddam oferecera proteção a Zarkawi, condenado à morte na Jordânia. Isto provaria a ligação entre Saddam e os jihadistas.
No documento, agora desclassificado, a CIA também discute o papel das falsas alegações sobre as supostas armas de destruição em massa de Saddam feitas pelo auto-intitulado Congresso Nacional Iraquiano, um grupo de exilados liderado pelo empresário Ahmed Chalabi.
Saddam Hussein só afirmou ter cumprido a Resolução 687 do Conselho de Segurança das Nações, que dispôs sobre o cessar-fogo na Guerra do Golfo de 1991, exigindo que seu governo abrisse mão de armas de destruição em massa e de mísseis de médio e longo alcances, em dezembro de 2002, quando Bush já estava decidido a derrubá-lo. Fugiu durante anos dos inspetores da ONU. Seu programa de armas biológicas só foi revelado por seus genros, quando fugiram do país, em 1995, para depois retornarem e serem fuzilados.
Havia uma suspeita legítima, tanto que o Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade o reinício das inspeções sob o comando do diplomata sueco Hans Blix. Mas não havia prova alguma de que o Iraque continuava desenvolvendo armas de destruição em massa. Apesar disso, a opinião pública dos EUA aceitou o argumento do governo. O país estava sob o trauma dos atentados de 11 de setembro de 2001 e engoliu as mentiras de Bush.
Quanto à ligação Saddam-Al Caeda, o fundamentalismo muçulmano é uma espécie de guerra civil dentro do Islã para decidir qual a verdadeira interpretação do Corão. Saddam é um secularista inspirado por ideologias européias como o socialismo e o nazismo. A partir da guerra de 1991, passou a manipular a religião por motivos políticos. Mas sempre soube que, numa aliança com fundamentalistas, seria engolido.
Já Ossama ben Laden admitiu a possibilidade de uma aliança com Saddam: "Se tivermos de nos aliar aos comunistas para lutar contra os cruzados, não há problema". Para ele, não há problema em se aliar a outros muçulmanos. Mas, como no Afeganistão depois da retirada soviética, assim que os cristãos ocidentais saíssem, Ben Laden se voltaria para seus inimigos dentro do Islã.
Os dois são ideologicamente incompatíveis. Isto não quer dizer que não pudessem fazer uma aliança oportunista contra um inimigo comum maior. A História do Oriente Médio registra incontáveis alianças profanas.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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