Treze horas depois de um ataque com 22 mortes em El Paso, no Texas, um homem mascarado identificado como Connor Betts, com colete a prova de bala e um fuzil de assalto metralhou dezenas de pessoas numa região de bares noturnos em Dayton, no estado de Ohio.
O atirador matou nove pessoas e feriu outras 27 em 30 segundos, até ser morto pela polícia. Os ataques realimentam o debate sobre controle de armas e também para a ameaça crescente do terrorismo dos ultranacionalistas, de extrema direita, nos Estados Unidos.
Em El Paso, na fronteira com o México, a polícia descobriu um manifesto atribuído a Patrick Crusius, o terrorista de 21 anos, um admirador do presidente Donald Trump, denunciando uma "invasão hispânica do Texas". Ele alegou: "Estou simplesmente defendendo meu país contra uma substituição étnica e cultural trazida por uma invasão."
Para o jornal The New York Times, é um eco do discurso do presidente Trump contra os imigrantes, especialmente da América Latina, reproduzido por jornalistas e comentaristas alinhados ao presidente.
"O ódio não tem lugar no nosso país, vamos tomar conta disso", declarou Trump, atribuindo os ataques a "problemas de doença mental". Mas o ex-deputado por El Paso Beto O'Rourke, aspirante à candidatura democrata à Presidência dos EUA em 2020, afirmou que "o presidente Trump tem muito a ver com o que aconteceu ontem em El Paso. Trump semeia um um tipo de medo e o tipo de reação que vimos ontem."
Em entrevista à rede de televisão ABC, o chefe da Casa Civil interino da Casa Branca, Mick Mulvaney, negou mais uma vez que o presidente tenha qualquer simpatia por grupos racistas ou supremacistas brancos: "São pessoas doentes. Você não pode ser um supremacista branca e ser bom da cabeça. Eu sei, você sabe e o presidente sabe disso. Este tipo de coisa tem de parar. Temos de imaginar uma maneira de corrigir o problema e não de a quem atribuir a culpa."
Desde 2015, Trump usou várias a palavra invasão para se referir aos imigrantes que tentam entrar nos EUA pela fronteira com o México. Manipula a questão para agradar ao eleitorado mais conservador, branco e sem curso superior, que se sente ameaçado pelos estrangeiros.
Em 2011, Trump alegou que o então presidente Barack Obama não tinha nascido nos EUA. Assim, não poderia ser presidente. Ao lançar sua candidatura, em junho de 2016, chamou os imigrantes mexicanos de "traficantes, estupradores e assassinos", e prometeu erguer um muro na fronteira.
Naquele mesmo ano, propôs a proibição da entrada de muçulmanos no país, uma discriminação religiosa inaceitável à luz da Constituição dos EUA. Depois da marcha de nazistas em Charlottesville, na Virgínia, em 12 de agosto de 2017, e de confrontos violentos com antifascistas, Trump disse que "havia gente boa e gente ruim dos dois lados".
Nas últimas semanas, o presidente atacou quatro jovens deputadas de primeiro mandato da ala mais à esquerda do Partido Democrata, todas de origem estrangeira e nenhuma branca. Ainda discutiu com um deputado negro da Comissão de Supervisão da Câmara de Representantes que criticou as condições de alojamento dos imigrantes na fronteira descrevendo a cidade de Baltimore como "infestada de ratos".
Hoje, no México, o ministro do Exterior, Marcelo Ebrard, considerou o ataque em El Paso uma agressão aos mexicanos e ofereceu a ajuda do país às vítimas. Sete mexicanos foram mortos e outros sete saíram feridos em El Paso.
A maioria dos atentados hoje nos EUA vem da extrema direita. No ano passado, supremacistas brancos cometeram 39 das 50 matanças realizadas por extremistas políticos. Oito foram responsabilidade de assassinos com posições contrárias ao governo.
Nos últimos dez anos, extremistas de direita causaram mais de 70% das mortes por terrorismo político. "A violência do extremismo de direita é nossa maior ameaça", denuncia o presidente da Liga Antidifamação, uma organização não governamental que luta contra a discriminação.
O discurso eleitoreiro de Trump no mínimo banaliza o racismo e o lobby das armas garante o acesso fácil a armas de guerra. O projeto de Trump, como acusa a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, está mais para "tornar os EUA brancos de novo".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
segunda-feira, 5 de agosto de 2019
Supremacistas brancos são nova ameaça do terror nos EUA
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