domingo, 11 de agosto de 2019

Paquistão compara anexação da Caxemira a expansão nazista

O primeiro-ministro do Paquistao, Imran Khan, comparou hoje a decisão da Índia de revogar a autonomia do estado de Jamu e Caxemira à expansão do nazismo e à anexação da Tcheco-Eslováquia antes do início da Segunda Guerra Mundial. A sugestão é que o governo nacionalista hindu do primeiro-ministro Narendra Modi age sob a inspiração de uma ideologia comparável ao nazismo.

Sob intensa pressão doméstica para tomar uma atitude, Khan comparou a situação da Caxemira a um "genocídio iminente". Ele acusou a Índia de querer mudar "a democracia da Caxemira através de uma purificação étnica: A questão é: o mundo vai assistir e apaziguar como fizeram com Hitler em Munique."

Na visão de Khan, a ideologia do Partido Bharatiya Janata (BJP), nacionalista hindu, "vai levar à supressao dos muçulmanos na Índia e, no fim das contas, a ataques ao Paquistão."

Único estado indiano com maioria muçulmana, a Caxemira é um foco de tensão que já causou três guerras entre os dois países, em 1947, 1965 e 1999, desde que se tornaram independentes do Império Britânico, em agosto de 1947.

Quando o país se dividiu, as províncias de maioria hindu formaram a Índia e as de maioria muçulmana formaram o Paquistão. Na Caxemira, a maioria da população era muçulmana, mas a elite dirigente era hindu. A tentativa de solução foi criar um país independente.

Dois meses depois da divisão, tribos paquistanesas invadiram a Caxemira. Quando o último governador colonial, o marajá Hari Singh, pediu ajuda à Índia, o governo indiano declarou que só poderia agir se ele aderisse oficialmente à Índia.

O marajá fez isso. O Exécito da Índia entrou na guerra, mas o Paquistão acabou ficando com 35% da Caxemira e até reivindica a soberania sobre toda a região.

A solução na época foi dar autonomia à Caxemira para fazer suas próprias leis, o que estava expresso no artigo 370 da Constituição da Índia, revogado por iniciativa do governo Modi.

O ultranacionalismo hindu do BJP sempre viu a Índia como um país hindu, mas os pais da pátria, o herói da independência, Mohandas Gandhi, e o primeiro primeiro-ministro indiano, Jawaharlal Nehru, decidiram criar um país inclusivo, multiétnico e multirreligioso. Isso levou ao assassinato de Gandhi por um extremista hindu, em 30 de janeiro de 1948.

Durante décadas, o Partido do Congresso, de Gandhi e Nehru, dominou a política da Índia. Nas últimas décadas, houve uma ascensão do BJP, que venceu as duas últimas eleições, em 2014 e 2019. Nesse período, Índia e Paquistão se tornaram potências nucleares.

Desde 1989, o movimento muçulmano da Caxemira aderiu à luta armada contra a Índia, um conflito responsável por cerca de 45 mil mortes. Para o ultranacionalismo do BJP, a Caxemira sempre foi um problema incômodo.

Antes de ser eleito primeiro-ministro, Modi foi acusado várias vezes de cumplicidade ou tolerância com massacres de muçulmanos e ataques a mesquitas. Era proibido de entrar nos Estados Unidos.

Depois de ganhar as segundas eleições consecutivas, ampliando sua maioria parlamentar, Modi partiu para a integração total da Caxemira na união indiana, sob a alegação de que há muito tempo a região está sujeita às "conspirações paquistanesas para promover o terrorismo e o separatismo".

"Deem-nos cinco anos e faremos da Caxemira o estado mais desenvolvido da Índia", afirmou o ministro do Interior indiano, Amit Shah, um dos extremistas de direita do governo.

Para revogar a autonomia, Modi enviou 15 mil policiais militares à Caxemira, impôs um toque de recolher noturno e cortou as telecomunicações na região, causando revolta no Paquistão, que defende a realização de um plebiscito sobre o futuro da Caxemira.

Em resposta, o Paquistão rebaixou as relações diplomáticas entre os dois países, expulsou o embaixador da Índia, suspendeu todo o comércio bilateral e os transportes ligando um país ao outro, apelou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e ao Tribunal Internacional de Justiça.

Ao fazer a comparação com o nazismo, o primeiro-ministro paquistanês cita uma história que o Ocidente conhece bem, na esperança de obter ajuda internacional. A Índia rejeita a internacionalização do que considera uma questão interna.

O presidente Donald Trump ofereceu a mediação dos EUA, mas a Índia só admite negociar bilateralmente com o Paquistão, a parte mais fraca. Mas é uma parte mais fraca com armas nucleares.

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