quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Salvini tenta derrubar governo e antecipar eleições na Itália

Depois de 14 meses no poder, o governo da Itália está por um fio. A coalizão do Movimento 5 Estrelas, anarquista, com a Liga, neofascista, está à beira do colapso. O vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Matteo Salvini, pediu hoje a convocação de eleições antecipadas para outubro. Mas mesmo que a Liga saia do governo, há vários passos necessários antes da realização de novas eleições.

As divergências entre a Liga e o M5E aumentaram nas últimas semanas. A gota d'água foi o voto do M5E no ontem Senado contra o projeto de construção de uma ferrovia de alta velocidade entre a França e a Itália, apoiado pela Liga.

Hoje, Salvini foi ao Palácio do Quirinal e pediu ao presidente Sergio Mattarella pedir a antecipação das eleições. Ele aposta numa vitória da Liga, que teria 40% das preferências do eleitorado, o que permitiria formar um governo sozinha ou com pequenos partidos de direita.

Cabe ao presidente a decisão de dissolver o Congresso e convocar o pleito. Há pouco, Mattarella defendeu a instabilidade institucional e falou contra antecipar as eleições. Mas não tem muitas opções.

O presidente pode pedir ao M5E e à Liga que formem um novo governo, possivelmente com um ministério diferente. Antes desta crise, a Liga estava defendendo a substituição do ministro da Economia, Giovanni Tria, um tecnocrata, por um ministro mais alinhado com suas ideias antieuropeias. Mas os dois parceiros precisam se entender.

Salvini deu até prazo até segunda-feira para o primeiro-ministro Giuseppe Conte fazer uma reforma ministerial. Quer também a cabeça do ministro dos Transportes, Danilo Toninelli.

"Como num casamento, se você passa a maior parte do tempo brigando e trocando insultos em vez de fazer amor, é melhor olhar nos olhos um do outro e tomar uma decisão adulta", afirmou o vice-primeiro-ministro, prometendo uma decisão "nas próximas horas".

O líder do M5E, Luigi di Maio, pediu à Liga que fique no governo até setembro, quando o Congresso da Itália deve votar a redução do número de parlamentares. É uma jogada para legitimar a postura do M5E contra os políticos tradicionais e pressionar a Liga a aprovar uma medida popular junto ao eleitorado.

Mattarella também pode pedir a outros partidos que formem um novo governo sem a Liga. Uma coligação do M5E com o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, teria maioria no Congresso, mas o relacionamento entre esses dois partidos não é bom. O secretário-geral do PD, Nicola Zingaretti, declarou hoje que o partido está pronto para disputar as eleições.

Um governo de minoria do M5E precisaria do apoio de outros partidos para ser aprovado.

Se os partidos não conseguirem formar um governo, o presidente terá de dissolver o Congresso e convocar eleições em 45 a 70 dias. A votação seria um outubro. É um mês difícil.

A Itália tem de apresentar sua proposta orçamentária à Comissão Europeia até 15 de outubro, o que exige a aprovação prévia pela maioria do Congresso. Seria difícil em meio a uma campanha eleitoral.

Com sua política antieuropeia, a Liga não quer se submeter às restrições orçamentárias impostas por Bruxelas por causa da dívida pública italiana, de 132% do produto interno bruto, mais do dobro dos 60%, limite previsto no pacto de estabilidade para sustentar o euro. Populista, Salvini quer mais gastos públicos e menos impostos.

A mistura de baixo crescimento, dívida elevada e governo instável faz da Itália o país mais problemático da Zona do Euro. O custo de refinanciamento da dívida italiana está muito abaixo do nível de juros que tinha de pagar em 2012, no auge da Crise do Euro, mas é maior do que quando o atual governo assumiu, em 1º de junho de 2018.

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