A nova corrida armamentista nuclear já faz vítimas. Uma explosão no local de testes atômicos de Nyonoksa na quinta-feira passada aumentou os níveis de radiação na área. Como no acidente nuclear de Chernobil, na Ucrânia, na antiga União Soviética, em 26 de abril de 1986, o Kremlin nega tudo e insiste que nada aconteceu.
Desta vez, o vazamento de radioatividade foi muito menor. Não chegou a atingir as vizinhas Noruega e Finlândia. Enquanto a população da cidade russa de Severodvinsk, onde a radiação subiu a 18 vezes acima do normal, procurava pílulas de iodo, que protege a glândula tiróide de absorver a radiação, Moscou tirou as informações da página da Internet da prefeitura local.
A central nuclear de Sarov era uma instalação secreta onde a URSS mantinha um arsenal de bombas de hidrogênio, as mais poderosas, durante a Guerra Fria.
Na versão oficial da ditadura de Vladimir Putin, foi apenas um acidente com um motor de foguete de combustível líquido, descrito como um "risco normal". Os cinco cientistas mortos foram chamados de "grandes heróis". Serão condecorados depois da morte e as famílias indenizadas.
O texto russo é patético. A pesquisa envolvia "a criação de fontes de energia térmica ou elétrica usando materiais radioativos, inclusive materiais físseis e radioisótopos", sem dar detalhes mais específicos sobre o projeto em que os "grandes heróis" trabalhavam.
De acordo com os serviços secretos dos Estados Unidos, provavelmente era o projeto de desenvolvimento de um míssil de cruzeiro movido a energia nuclear capaz de dar a volta no planeta e de escapar dos sistemas de defesa antimísseis americanos. É chamado de Burevestnik na Rússia e de SSC-X-9 Skyfall (Queda do Céu) pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada pelos EUA.
Mas também poderia ser o míssil de cruzeiro hipersônico Zircon, capaz de voar a uma velocidade oito vezes superior à do som, conforme a propaganda russa, ou um novo drone submarino de longo alcance lançado por submarino chamado Posseidon.
Os especialistas consideram estas armas "apocalípticas". Só poderiam ser usadas numa guerra nuclear total. Um jornal oficial russo descreveu o Burevestnik como "uma arma de vingança" para atacar qualquer infraestrutura depois que os mísseis nucleares balísticos intercontinentais tivessem atingido o território inimigo.
A tragédia nuclear é mais um golpe na ditadura de Putin, que enfrenta uma onda de protestos em Moscou contra vetos e mais de dez candidatos de oposição às eleições de 8 de setembro para a Câmara Municipal da capital russa.
A verdadeira ameaça a Putin não vem de mísseis nucleares inimigos, mas de seu próprio povo, cansado do autoritarismo emanado no Kremlin.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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