A guerra comercial corre o risco de degenerar numa guerra cambial. O Tesouro dos Estados Unidos acusou hoje à noite o governo chinês de manipular o yuan, depois que o Banco Popular da China deixou a moeda cair abaixo de sete por dólar.
O Tesouro argumentou que a China tem "uma longa história de permitir a desvalorização da moeda" através da intervenção estatal no mercado. "Nos últimos dias, a China deu passos concretos para desvalorizar sua moeda, enquanto mantém reservas cambiais substanciais, embora tenha feito uso ativo destes instrumentos no passado."
Horas antes, o presidente Donald Trump apontou a desvalorização do yuan como uma forma de criar uma vantagem no comércio ao tornar os produtos chineses mais baratos no mercado internacional. Os economistas chamam isso de desvalorização competitiva.
A pressão de Trump sobre o Conselho da Reserva Federal (Fed), a diretoria do banco central americano, para reduzir ainda mais a taxa básica de juros visava a desvalorizar o dólar e estimular a economia para neutralizar o impacto da guerra comercial com a China.
Se os países começam a proteger seu mercado com tarifaços, é uma guerra comercial. Se manipulam as taxas de câmbio, é uma guerra cambial. Quando travadas pelas maiores economias do mundo, podem ter consequências desastrosas para a economia internacional.
Parte da reação da China ao tarifaço de 10% sobre US$ 300 bilhões em importações anuais anunciado por Trump na sexta-feira passada, o yuan caiu 1,9%, sendo cotado a 7,1087 no centro financeiro de Hong Kong.
"A designação pelo Tesouro dos EUA da China como manipuladora do câmbio é um sinal de que a guerra comercial está se expandindo para uma guerra econômica aberta e total", comentou Eswar Prasad, especialista no sistema financeiro da China na Universidade Cornell, nos EUA.
Depois da trégua anunciada em Osaka, no Japão, durante a reunião do Grupo dos 20, pelo presidente Trump e o ditador Xi Jinping, havia esperança de um acordo entre EUA e China para evitar o agravamento do conflito. Mas não houve avanço no encontro de Xangai, na semana passada, e Trump anunciou o novo tarifaço.
A China tem US$ 1 trilhão em títulos do Tesouro dos EUA em suas reservas cambiais. Em caso de um conflito extremo, poderia usar mais esta arma.
O mercado financeiro sentiu o impacto da escalada na guerra comercial entre EUA e China. A Bolsa de Valores de Nova York caiu 1,9% antes do anúncio do Tesouro nesta noite acusam Beijim de manipular o câmbio.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
segunda-feira, 5 de agosto de 2019
EUA acusam China de manipular o câmbio
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