O candidato peronista Alberto Fernández, da Frente de Todos, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como candidata a vice-presidente, conquistou mais de 47% dos votos na eleição prévia para a Presidência da Argentina realizada ontem, contra apenas 32% para o presidente Mauricio Macri, da aliança Juntos pela Mudança.
Pela lei do país, bastam 45% mais um dos votos válidos para ser eleito em primeiro turno. Fernández é assim o franco favorito para a eleição de 27 de outubro. A meta do kirchnerismo é ganhar no primeiro turno para evitar uma união contra si no segundo turno, previsto para 24 de novembro.
"Não viemos para restaurar nenhum regime e, sim, para criar uma nova Argentina em que se acabarão os rachas, as divisões e as vinganças", declarou Fernández diante de uma multidão eufórica. "Nunca fomos loucos governando. Vamos arrumar o que os outros estropiaram. Nosso objetivo é que os argentinos recuperem a felicidade."
Com a economia em profunda crise, a derrota do macrismo foi total. Na província de Buenos Aires, onde o governo contava com a popularidade da governadora María Eugenia Vidal, ela ficou nos mesmos 32% de Macri, enquanto o ex-ministro da Economia do governo Cristina Kirchner, Axel Kicillof, chegou perto dos 50%.
A grande expectativa é qual será a reação do mercado financeiro nesta segunda-feira. Como as últimas pesquisas se mostraram totalmente erradas e eram favoráveis a Macri, a Bolsa de Valores de Buenos Aires, os índices de confiança e os bônus da dívida pública se valorizaram, na expectativa de reeleição do presidente no segundo turno.
Macri tem o apoio dos Estados Unidos, do governo Jair Bolsonaro e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que emprestou US$ 57 bilhões para conter a queda do peso. As pesquisas davam uma vantagem de 0,5 a 8 pontos percentuais a Fernández, o que colocaria o presidente como favorito no segundo turno.
A crise é brutal. O desemprego passa de 10%, o que não acontecia desde 2006. No ano passado, a inflação ficou em 47,6, a maior em 27 anos, e o produto interno bruto caiu 2,5%. Nos últimos 12 meses até junho, a inflação foi de 55,8%. No fim do primeiro trimestre, o PIB registrava baixa de 5,8%, depois da quatro trimestres em queda. A taxa básica de juros está em 64%.
O peso argentino caiu 51% em relação ao dólar em 2018 e mais 14% no início do ano.
Outra vítima da derrota de Macri pode ser o acordo de livre comércio da União Europeia com o Mercosul, que depende da aprovação pelos parlamentos de todos os países participantes. A oposição a Macri já se pronunciou contra o acordo, considerando-o lesivo aos interesses dos trabalhadores argentinos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
segunda-feira, 12 de agosto de 2019
Peronismo obtém grande vitória em eleições prévias na Argentina
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