No único debate da campanha eleitoral na França na televisão, o candidato socialista, François Hollande, acusou hoje o presidente Nicolas Sarkozy de dividir o país e os franceses nos últimos cinco anos, e prometeu ser o presidente da justiça.
Com seis pontos percentuais de desvantagem nas pesquisas de opinião, Sarkozy precisa de uma vitória nítida para aumentar suas chances para o segundo turno, em 6 de maio de 2012. Ele tenta apresentar seu oponente como despreparado e inexperiente para governar a França.
Durante mais de duas horas, os candidatos se degladiaram num debate aberto muito diferente dos modelos engessados adotados nas campanhas eleitorais no Brasil. Havia dois grandes relógios para que os dois candidatos falassem exatamento o mesmo tempo. Esse era o princípio de igualdade.
De resto, os mediadores da TV francesa interferiram pouco, apenas para lançar os grandes temas e impedir o bate-boca em que ninguém em casa ouve nada.
Hollande se apresentou como "o presidente da justiça, justiça fiscal, justiça social, justiça territorial" e defendeu a necessidade de uma mudança de rumo na economia para se concentrar no crescimento, na produção e na geração de empregos. "Serei o presidente da reunião".
O presidente acusou Hollande de pretender falar para todos os franceses mas negociar apoio apenas dos Verdes e da Frente de Esquerda, ignorando as outras parcelas da população, e advertiu que "a França não pode errar".
Sempre pronto para atacar e não deixar qualquer insinuação de Sarkozy sem resposta, Hollande disparou: "Você dividiu os franceses".
Ao defender seu governo, o presidente alegou que "a França avançou durante os quatro anos de crise", uma das piores da história recente.
"Houve reformas, sim, mas a que preço para os franceses", retrucou Hollande.
Sarkozy criticou o fato das bandeiras vermelhas predominarem nos comícios do candidato socialista e o apoio declarado da Confederação Geral do Trabalho (CGT) a Hollande.
"Você não vai se passar por vítima", contra-atacou o socialista. "Eu condeno todos os excessos. São resultado de uma França cansada e dividida".
A França tem 3 milhões de desempregados, criticou Hollande. "Em 2007, o candidato Sarkozy prometeu reduzir a taxa de desemprego para 5%. Está no dobro. Faltam crescimento, produção. A indústria está abandonada. É preciso mudar o sistema de impostos para empresas e criar um contrato de gerações", acrescentou.
"Não vou dar dinheiro público para subsidiar o emprego de velhos", criticou o presidente, desqualificando a proposta do oposicionista para criar empregos para jovens e adultos como oportunista e demagógica.
Para Hollande, "nossa competitividade se degrada. Jamais tivemos déficit comerciais tão grandes". Quando ele citou a Alemanha como exemplo, Sarkozy reagiu: "Você propõe exatamente o contrário do que faz a Alemanha, reduzir o déficit e adotar a regra de ouro do equilíbrio orçamentário. O déficit da balança comercial é por causa dos preços da energia, do petróleo. E você quer cortar o nuclear neste momento?", justificou-se o presidente francês.
"O déficit comercial é estrutural. Houve déficit nos cinco anos de seu governo. Não houve inovação", acusou Hollande. "No meu governo, o salário mínimo estará ligado ao crescimento e o Estado não vai ganhar um centavo com o preço da gasolina.".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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