Mais de 50 milhões de egípcios votam hoje e amanhã para escolher o primeiro presidente em eleições competitivas e mais ou menos livres da história do país. Faço a ressalva porque vários candidatos foram vetados. O resultado oficial deve sair em 29 de maio.
Entre os favoritos, há dois dirigentes do antigo regime e dois candidatos de partidos islamitas. O mais conhecido é o ex-ministro do Exterior da ditadura de Hosni Mubarak e ex-secretário-geral da Liga Árabe, Amir Moussa. Outro oriundo da ditadura militar que governa o Egito desde que a Revolução dos Coronéis acabou com a monarquia, em 1952, é o ex-primeiro-ministro Ahmed Chafik.
Depois de sua ampla vitória nas eleições parlamentares, os islamitas estão confiantes. Seus candidatos são o moderado Abdel Moneim Abul Foutouh e Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, o mais antigo grupo fundamentalista muçulmano do mundo, fundado em 1928.
Os Observadores para a Proteção da Revolução, que reúnem organizações de defesa dos direitos humanos, disseram que o início da votação transcorreu bem. Cerca de 14,5 mil juízes e 65 mil funcionários eleitores organizam o pleito em 13.099 zonas eleitorais.
Se ninguém obtiver mais da metade dos votos, haverá segundo turno em 16 e 17 de junho.
A revista americana Foreign Policy questiona se uma vitória do ex-chanceler seria o fim da revolução que derrubou Mubarak em 11 de fevereiro de 2011.
Uma vitória dos islamitas seria normal. Afinal, partidos democratas-cristãos dominaram a direita do espectro político em países como a Alemanha e a Itália depois da Segunda Guerra Mundial. Mas poderia levar a uma radicalição perigosa para o futuro da democracia no Egito.
Na minha opinião, o melhor resultado seria uma vitória de Moussa, que me parece o melhor nome para conduzir uma transição para a democracia. É ilusão imaginar que um país possa passar a ser livre e democrático de um ano para o outro.
A democracia é um processo lento. Se lembrarmos a História da América Latina, a democratização foi acelerada na Argentina pela desmoralização dos militares na Guerra das Malvinas. Um ano e meio após a derrota, o radical Raúl Alfonsín chegava à Casa Rosada, mas teve de enfrentar uma série de rebeliões militares por ter aberto processos para julgar os torturadores e assassinos.
No Brasil, a "abertura lenta, gradual e segura" foi anunciada pelo general-presidente Ernesto Geisel em 1974, quando a economia sentia os efeitos da primeira crise do petróleo e o "milagre econômico" da ditadura desabava. Onze anos depois, o poder foi devolvido aos civis, mas a primeira eleição presidencial direta desde 1960 só foi realizada em 1989.
Os atentados do Riocentro e contra a Ordem dos Advogados do Brasil podem ser comparados a episódios semelhantes como aquele massacre num jogo de futebol no Egito. São sinais de que os repressores da polícia política do antigo regime temem ser punidos pelo regime democrático e resistem a sua implantação.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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