As eleições serão realizadas num momento de grande agitação política. Cerca de 40 pessoas morreram nos últimos dias em confrontos entre manifestantes e a polícia. Os oposicionistas concentrados na Praça da Libertação, no centro do Cairo, queriam adiar a votação, alegando que a junta militar que governa o país não tem legitimidade para presidir eleições.
No domingo, o presidente do Conselho Supremo das Forças Armadas, marechal Mohamed Hussein Tantawi, fez um apelo aos egípcios para que votem. Ele advertiu que o país está numa encruzilhada e que os militares não vão aceitar pressões.
O conselho militar assumiu o poder em 11 de fevereiro de 2011, data da queda do ditador Hosni Mubarak, que ficou quase 30 anos no poder.
Agora, será eleita uma Câmara com 498 deputados; os militares vão indicar mais dez. De 29 de janeiro a 11 de março, serão eleitos 180 senadores; outros 90 serão indicados depois da primeira eleição presidencial livre da História do Egito, marcada para junho de 2012.
A Irmandade Muçulmana, partido político mais organizado do país, é favorita nas eleições parlamentares. Pode eleger até 40% dos deputados, mas a expectativa é que não consiga maioria absoluta na Câmara.
Se olharmos para a História do Brasil, dá para entender que a democracia é um processo. Não pode ser imposta à força, como George W. Bush quis fazer no Iraque. Depende da formação de consensos, o que é sempre difícil em nações atrasadas e radicalizadas (o radicalismo é mais um sintoma da decadência dos EUA).
No Brasil, depois da crise do petróleo árabe de 1973, que acabou com o modelo econômico da ditadura, baseado em energia e mão de obra baratas, o gen. Ernesto Geisel anunciou sua abertura lenta, gradual e segura em 1974. Só em 1985 o poder foi devolvido aos civis, depois das bombas na OAB e no Riocentro. A nova Constituição veio em 1988 e a primeira eleição presidencial direta em 1989. Foram 15 anos de transição.
O Egito e o mundo árabe em geral não têm tradição democrática, como tivemos pelo menos de 1946-64, com todos os seus defeitos. É um processo longo, sujeito a retrocessos.
Talvez o maior exemplo de democracia no mundo muçulmano seja a Turquia, apesar da repressão aos curdos e de ser hoje um dos países que mais prendem jornalistas. As Forças Armadas foram durante muito tempo as fiadoras do regime. Só a pressão para negociar a adesão à União Europeia conseguiu afastar os militares da política. Vários oficiais estão sendo processados por tentativa de golpe de Estado.
No Egito, onde os militares mandam desde a queda da monarquia, em 1952, estão envolvidos em todas as atividades da vida pública, inclusive econômicas. O melhor que se pode esperar é uma transição lenta sob a tutela dos militares, que, como na Turquia, pretendem garantir que os fundamentalistas não imponham uma teocracia.
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