O ex-capitão da Marinha Alfredo Astiz, conhecido como o Anjo Louro da Morte, e outros 11 réus foram condenados à prisão perpétua ontem na Argentina por crimes cometidos na Escola de Mecânica da Armada (Esma), o mais notório centro de detenção e tortura da última ditadura militar, que aterrorizou o país de 1976 a 1983 e caiu por causa da vergonhosa derrota na Guerra das Malvinas (1982).
Na verdadeira guerra, Astiz, acusado de matar pelas costas uma menina argentina de origem sueca de apenas 17 anos, foi nomeado governador das ilhas Geórgias do Sul. Rendeu-se ao Reino Unido sem disparar um tiro. Em 1998, antes do governo Néstor Kirchner revogar as leis que garantiam a impunidade dos repressores, ele declarou ser "o homem mais preparado da Argentina para matar jornalistas e políticos" e não se arrepender de nada.
Cerca de 5 mil pessoas foram presas e torturadas na Esma. Umas 200 escaparam com vida. Vários foram drogados e jogados em alto mar no Oceano Atlântico, noticia o jornal francês Le Monde. O local foi transformado em memorial em homenagem às vítimas.
No fim de um processo que durou um ano e dez meses, com depoimento de 79 sobreviventes como testemunhas, 12 réus pegaram prisão perpétua e quatro foram condenados e quatro a penas de 18 a 25 anos. Entre eles, estava Jorge Acosta, o Tigre, que afirmou que "as violações de direitos humanos são inevitáveis numa guerra".
Astiz, já condenado à revelia na França pela morte de duas freiras franceses e na Suécia pelo assassinato de Dagmar Hagelin, foi sentenciado desta vez por perseguir pessoas que se reuniam na Igreja de Santa Cruz. No início da ditadura, os parentes dos primeiros desaparecidos se encontravam lá. Eles foram marcados e sequestrados.
O Anjo da Morte foi condenado agora por "privação ilegal de liberdade, tortura e homicídio" em 11 casos e outros cinco casos semelhantes. Também foi considerado culpado pela morte e roubo dos bens do jornalista Rodolfo Walsh, informa o jornal argentino Clarín.
Walsh ficou famoso ao entrar para a clandestinidade para descobrir onde estavam sobreviventes de um massacre cometido em 1956, depois do golpe militar que derrubou Juan Domingo Perón em 1955. Não sobreviveu para contar histórias parecidas da última ditadura.
Apesar do frio, centenas de pessoas se concentraram diante do tribunal, no centro de Buenos Aires, e aplaudiram cada veredito.
Ao todo, a última ditadura militar argentina matou cerca de 30 mil pessoas. Em 2005, o Supremo Tribunal da Argentina, a pedido do então presidente Néstor Kirchner, revogou as leis Ponto Final e de Obediência Devida, do governo Raúl Alfonsín, e os indultos do presidente Carlos Menem (1989-99), que garantiam a impunidade de torturadores e assassinos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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