O resultado das primeiras eleições democráticas realizadas depois das revoluções da primavera árabe, no domingo, na Tunísia, indicam "uma vontade de mudar o sistema sem muita pressa", afirma o professor Vincent Geisser, pesquisador do Instituto de Estudos e Pesquisas sobre o Mundo Árabe e do Instituto Francês do Oriente Médio. Ele acaba de lançar o livro A Renascença Árabe: sete questões-chaves sobre as revoluções em marcha. Considera islamização inevitável.
Em entrevista ao jornal francês Libération, Geisser falou sobre o Partido da Renascença Islâmica (Nahda), vencedor das eleições para a Assembleia Constituinte da Tunísia, descrito na mídia ocidental como islamita moderado: "Liberal no plano econômico e político, ele reconhece a primazia do sistema pluralista, renuncia à teocracia" e é "profundamente conservador" em valores e moral.
Ao votar nele, na opinião do pesquisador, os eleitores tunisianos não estariam querendo a transformação do país numa república islâmica no modelo do Irã, mas "a volta da ordem anterior à efervescência revolucionária".
Diante da vitória do Nahda e das declarações do presidente do Conselho Nacional de Transição da Líbia, Mustafá Abdel Jalil, de que o direito islâmico será a base legal da nova Líbia, vários sinais de alerta foram acesos no Ocidente, que há uma década luta contra o terrorismo de extremista muçulmanos.
A tendência de votar em islamitas é inevitável, argumenta Geisser: "Eles fizeram uma revolução em nome da democracia e é em nome dessa aspiração democrática que votaram a favor de uma maioria islâmica. Pode parecer contraditório aos olhos de observadores ocidentais, mas é lógico para numerosos tunisianos. A reapropriação de sua islamicidade é vista como um avanço democrático".
Quando à evolução ideológica do Nahda, o orientalista considera que seu modelo político não se assemelha ao da revolução iraniana: "Não penso que este partido queira criar uma teocracia, mas um regime pluralista com fortes referências ao islamismo".
O professor confia na força que a sociedade civil da Tunísia mostrou ao acabar, em 14 de janeiro de 2011, com a ditadura de Zine ben Ali, que durava 23 anos: "Os islamistas não está sozinhos e não se de ve subestimar a força da sociedade civil. Os tunisianos não se livraram de um ditador barbeado para colocar no poder um ditador barbado. Se os islamitas forem tentados a instalar um novo regime autoritário, vão enfrentar resistência".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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