domingo, 7 de outubro de 2007

Ditadores asiáticos vão em direções diferentes

Duas ditaduras militares da Ásia enfrentam crises agudas no momento e buscam soluções em caminhos diferentes. Enquanto o Paquistão marcha para a abertura democrática, Mianmar (ex-Birmânia) ignora o extraordinário desenvolvimento da Ásia e pretende continuar sendo um dos países mais fechados do mundo.

A situação paquistanesa é extremamente complexa. O ditador Pervez Musharraf acaba de ser reeleito mas sua vitória ainda depende da aprovação final do Supremo Tribunal. Ele promete deixar o comando do Exército para se tornar um presidente civil, dentro do processo de redemocratização do país, que enfrenta sérios problemas, como o radicalismo islâmico, a possível existência de enclave da rede terrorista Al Caeda e da milícia dos Talebã na fronteira com o Afeganistão, revolta no Baluquistão. De certa forma, Musharraf é a garantia de que a situação num ficará fora de controle no único país muçulmano com armas nucleares.

Na opinião do professor Kishore Mahbubani, diretor da Faculdade de Políticas Públicas Lee Kuan Yew da Universidade Nacional de Cingapura, "enquanto o Paquistão entende por que a Ásia está crescendo, a Birmânia não entende. A Ásia cresce porque seus países abrem-se cada vez mais à modernidade. Esta onda de modernização começou no Japão, espalhou-se pelos 'tigres asiáticos' (Cingapura, Coréia do Sul, Hong Kong e Taiwan) e alguns países da Associação dos Países do Sudeste da Ásia (Indonésia, Malásia, Tailândia e Vietnã), chegando depois à China e à Índia. Agora, move-se rumo ao Paquistão e ao Oeste da Ásia".

Quando o ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif tentou voltar ao país recentemente e foi barrado no aeroporto, temia-se uma explosão de violência de seus seguidores. Para Mahbubani, isto não aconteceu "porque a elite paquistanesa está concentrada na modernização do país, Sob a liderança do primeiro-ministro Shaukat Aziz, ex-funcionário do Citibank, tem realizado profundas reformas estruturais para adotar as melhores práticas das economias emergentes", inclusive da inimiga história, a Índia.

O Paquistão está tentando captar investimentos externos e ampliar seu comércio exterior. Também se beneficia do sucesso de sua diáspora na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.

Para o professor, a abertura não se limita à economia e às finanças. Embora milhares de escolas religiosas continuem funcionando e o fundamentalismo muçulmano seja uma força, isso não alterou fundamentalmente o tecido da sociedade paquistanesa.

Numa universidade particular de Lahore, no Paquistão, "só 5% das mulheres usavam o véu, um sinal expressivo de liberdade social", enquanto na Malásia nos anos 60 poucas mulheres usavam o véu e hoje quase todos usam".

Também há uma saudável expansão da liberdade dos meios de comunicação no Paquistão. Diversos canais de televisão discutem abertamente as atividades de dois ex-primeiros-ministro, Sharif e Benazir Bhutto, e as denúncias de corrupção contra eles. "De fato, muitos elementos de uma sociedade aberta estão presentes, inclusive um Poder Judiciário independente", comentou Kishore Mahbubani.

Em contraste, a ditadura de Mianmar não dá notícias da líder da oposição, Aung San Suu Kyi, a não ser para acusá-la pela confrontação e de ser fantoche de interesses estrangeiros. Jamais permitiria a volta de um presidente do Supremo Tribunal afastado pelos generais, como o ditador paquistanês Perverz Musharraf deixou, em maio passado, muito menos manifestações de rua em defesa do ministro do Supremo.

A decisão americana de engajar, em vez de isolar, o Paquistão também ajudou, raciocina Mahbubani, argumentando que o mundo seria um lugar melhores se os dirigentes dos EUA viajassem ao Irã e a Mianmar e fizessem suas críticas diretamente, como fazem com o Paquistão.

O Ocidente aposta em sanções econômicas para isolar a junta militar birmanesa. Mas o país já está virtualmente isolado há 45 anos. Poder de pressão mesmo só tem a China, maior parceira comercial de Mianmar, que massacrou seus próprios dissidentes na Praça da Paz Celestial, em Beijim, em 1989, e que defende a não-ingerência em questões internas como reprimir a oposição.

Nenhum comentário: