Ao revogar hoje a última condenação do ex-ditador Hosni Mubarak, derrubado por uma revolta popular em fevereiro de 2011, o Tribunal Superior de Justiça do Egito não deixa dúvidas: o país voltou a ser a ditadura militar que era antes da chamada Primavera Árabe.
Em maio de 2014, Mubarak havia sido condenado a três anos de prisão por desviar dinheiro público no valor de US$ 17 milhões, destinado a reformar palácios presidenciais, para obras nas residências da família. Seus dois filhos foram condenados a 4 anos de detenção no mesmo processo.
Como está velho e doente aos 86 anos, o ex-ditador cumpre pena num hospital militar no distrito de Maadi, noticiou a agência Reuters. Em novembro, ele havia sido absolvido da acusação de responsabilidade pelas 852 mortes ocorridas durante a revolução que o derrubou.
Agora, sem nenhuma condenação pendente, pode ser posto em liberdade a qualquer momento para revolta dos manifestantes que ocuparam a Praça da Libertação, no centro do Cairo, durante semanas, para exigir sua queda, muitos dos quais estão presos.
A era Mubarak (1981-2011) é vista como um tempo de autoritarismo e corrupção, mas hoje os egípcios têm mais do mesmo. Sua queda levou à primeira eleição presidencial livre da história do Egito, vencida por Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, em junho de 2012.
No poder, a Irmandade Muçulmana mostrou-se autoritária, discriminatória, anticristã e antidemocrática, rompendo com os compromissos da revolução que depôs Mubarak. Um ano depois, os manifestantes voltaram a tomar a Praça da Libertação, desta vez contra Mursi e a Irmandade Muçulmana.
Em 3 de julho de 2013, o comandante das Forças Armadas, marechal Abdel Fattah al-Sissi, deu um golpe de Estado, expurgou os islamitas e colocou a Irmandade Muçulmana na ilegalidade. Mais de mil islamitas foram mortos.
Para dar uma aparência de democracia à volta da ditadura militar que governou o Egito desde que a Revolução dos Coronéis derrubou o rei Faruk, em 1952, Al-Sissi foi eleito presidente em maio de 2014. A absolvição de Mubarak e a prisão em massa de oposicionistas islamitas e liberais deixa claro que é só uma aparência.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário