O rei Abdala ben Abdul Aziz al Saud, da Arábia Saudita, morreu hoje aos 90 anos depois de longa enfermidade, anunciou a família real em nota lida na televisão estatal na manhã de sexta-feira pela hora local. Abdala estava no poder oficialmente desde 2005, quando morreu seu meio-irmão Fahd, mas governava o país desde 1995 por causa de problemas de saúde do antecessor
Com a morte do sultão, ascende ao trono o rei Salman ben Abdul Aziz al Saud, de 79 anos, meio-irmão de Abdala, que sofre de demência senil.
O príncipe Mukrin ben Abdul Aziz al Saud, de 69 anos, nomeado novo herdeiro, é quem governa o país na prática. Mais jovem dos 45 filhos do fundador da Arábia Saudita, rei Abdul Aziz al Saud, foi diretor dos serviços secretos sauditas de 2005 a 2012, quando passou a ser assessor especial do rei Abdala. Em 2013, foi nomeado vice-primeiro-ministro. O príncipe herdeiro era o primeiro-ministro.
Como segundo na linha de sucessão ao trono, foi indicado o príncipe Mohamed ben Naif, sobrinho do novo rei. Ele era chefe do combate do terrorismo e do programa de desradicalização dos jihadistas. Se chegar ao trono, será o primeiro sultão saudita que não será filho do fundador do país. Será o primeiro neto, numa transferência de poder para a terceira geração da dinastia.
Maior produtor e exportador mundial de petróleo, a Arábia Saudita lidera a ação que derrubou os preços internacionais do petróleo em mais de 50% nos últimos seis meses para competir com o óleo e gás natural extraídos do xisto betuminoso nos EUA. É uma monarquia absolutista sem Constituição, com produto interno bruto de US$ 778 bilhões, mais de 30 milhões de habitantes, 6 mil príncipes e escasso controle público de suas atividades. Muitos são suspeitos de financiar o terrorismo.
Dos 19 terroristas cometeram os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, 15 eram sauditas. A rede terrorista Al Caeda, então chefiada pelo saudita Ossama ben Laden, escolheu-os a dedo para provocar uma crise entre os EUA, que culpa pelos males do mundo, e a dinastia Saud, que considera fantoche do imperialismo ocidental.
A Arábia Saudita é assim fruto de uma aliança entre a dinastia Saud e um clero ultraconservador sunita. Guardiã das cidades sagradas de Meca e Medina, a família real saudita tem desde 1744 uma aliança histórica com o wahabismo, uma versão puritana do islamismo que exporta pelo mundo com a fortuna gerada pelos petrodólares. É a mesma corrente seguida pela rede terrorista Al Caeda e pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
Ao mesmo tempo, o reino depende de sua aliança militar com o Ocidente para sua segurança, sacramentada num encontro de seu fundador com o então presidente dos EUA Franklin Roosevelt, que voltava da Conferência de Ialta, em 1945, uma parceria regada ao petróleo que a Arábia Saudita descobrira em 1938.
Diante da ameaça do terrorismo que nega sua legitimidade e o acusa de ser um fantoche do Ocidente, a monarquia saudita reprimiu duramente a rede Al Caeda, o que levou seu comando e campos de treinamento na Península Arábica para o Iêmen, país de origem da família Ben Laden.
Não há respeito aos direitos humanos na Arábia Saudita. As mulheres não podem dirigir nem sair na rua sozinha e são alvo de violência doméstica, assim como empregados. O blogueiro Raif Badawi, que tentou criticar a religião e discutir ideias liberais na Internet, foi condenado a 10 anos de prisão, US$ 250 mil de multa e mil chibatadas em público, em 20 doses de 50 chibatadas.
Sob pressão internacional, o falecido rei suspendeu as chibatadas por "motivo de saúde". A decisão do próximo a respeito do caso foi marcar seu reinado.
No plano internacional, a Arábia Saudita disputa a liderança regional do Oriente Médio com o Irã, que é persa e xiita. Está inquieta com reaproximação entre os EUA e o Irã. Os sauditas estão por trás de vários grupos armados sunitas em atividade.
O ministro do Exterior iraniano, Javad Zarif, acaba de cancelar uma visita a Riade que marcaria o início de um diálogo entre Arábia Saudita e Irã fundamental para a pacificação do Oriente Médio. Diante do anúncio de que os sauditas vão treinar rebeldes sírios, o Irã, que apoia a ditadura de Bachar Assad na guerra civil da Síria, suspendeu a viagem do chanceler à capital saudita.
Neste momento de transição, a Arábia Saudita não quer passar uma imagem de fragilidade. No Oriente Médio, às vezes, a disposição de negociar é vista pelo outro lado como um sinal de fraqueza.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
Sultão da Arábia Saudita morre os 90 anos
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Um comentário:
Muito interessante professor. Eu já tinha lido no livro O Grande Jogo de Demétrio Magnoli, muito sobre o equilíbrio precário entra a Casa de Saul e a Dinastia Wahabi. Inclusive sobre o descontentamento evidente dos sauditas com as bases dos EUA em solo pátrio. O autor sustenta, baseado entre outras coisas numa declaração atabalhoada de Wolfowitz sobre o motivo sobre a Guerra no Iraque..
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