Único suspeito até agora na investigação sobre a morte do promotor Alberto Nisman, que denunciou a presidente da Argentina por acobertar o pior atentado terrorista da história da América Latina, o assessor Diego Lagomarsino, que lhe emprestou a arma do crime, arrolou como testemunhas a presidente Cristina Kirchner e o ministro Aníbal Fernández. Ambos insinuaram que ele seria o assassino.
A promotora encarregada do caso, Viviana Fein, esclareceu a questão: "Não há elemento algum no momento que possa comprometê-lo por fato doloso de maior gravidade. Está imputado por algo concreto e nada mais", por ter emprestado a arma do crime a Nisman".
Lagomarsino, um especialista em informática que assessorava Nisman na investigação sobre o atentado que matou 85 pessoas e feriu outras 300 na Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em Buenos Aires, em 18 de julho de 1994, declarou que o promotor lhe pediu a arma emprestada "para deixar no porta-luvas, caso algum maluco me chame de filho da p... e traidor da pátria, e queira me atacar".
O Código Penal argentino prevê pena de até seis anos de reclusão por fornecer a arma do crime.
Nisman foi enterrado hoje no cemitério judaico de La Tablada, na Grande Buenos Aires. Quando o féretro chegou, o caixão foi recebido com aplausos e gritos de "assassina" dirigidos à presidente Cristina Kirchner, que não para de se intrometer nas investigações de um caso em que seu governo é o maior suspeito.
No primeiro momento, a líder argentina sugeriu que foi suicídio, escrevendo em redes sociais: "O que se passa com uma pessoa para tirar a própria vida?" Na quinta-feira da semana passada, apresentou nova versão: "Estou convencida de que não foi suicídio", tuitou Cristina.
Tudo não passaria de uma conspiração de agentes secretos renegados para comprometer seu governo: "Usaram-no em vida e depois precisavam dele morto", argumentou em longa carta no Facebook. A armação não estaria na denúncia oferecida por Nisman contra Cristina, assessores e aliados interessados em acobertar altos funcionários iranianos, mas em matá-lo e usar a morte para atingir a presidente.
Onde estão os indícios e elementos de prova que permitiram à presidente argentina chegar a estas conclusões? O resto do país gostaria de saber. Em seguida, o governo demitiu três guarda-costas encarregados da segurança do promotor morto e, há dois dias, Cristina extinguiu a Secretaria de Inteligência do Estado (Side), como se fosse apenas um antro de agentes corruptos e renegados.
Por que não esperou que a investigação das autoridades competentes da Polícia Federal e do Ministério Público chegasse a uma conclusão sobre a morte do promotor? Até o momento, tudo o que Cristina Kirchner fez e disse só serviu para atrapalhar. Isso só aumenta as suspeitas sobre seu governo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
Único réu quer depoimento de Cristina Kirchner no caso do promotor
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