O líder histórico do Sinn Féin, partido político ligado do Exército Republicano Irlandês (IRA), Gerry Adams, foi libertado hoje na Irlanda do Norte. Ele tinha sido preso há quatro dias e interrogado sobre o sequestro, assassinato e ocultação de cadáver de uma mulher acusada na época de ser informante do governo britânico, em 1972, no auge da guerra civil norte-irlandesa.
Adams foi eleito várias vezes para o Parlamento Britânico. Nunca assumiu a cadeira por se negar a jurar lealdade à rainha da Inglaterra. Antes do processo de paz que levou ao Acordo da Sexta-Feira Santa, em 1998, sua voz era proibida nas rádios e televisões do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte.
Com a pacificação, o presidente do Sinn Féin virou deputado do Parlamento da Irlanda. Mesmo que ele não seja processado por esse caso de 1972, sua carreira política no Sul está liquidada.
Gerry Adams foi denunciado por dois ex-guerrilheiros do IRA num projeto para registrar a história da guerra civil na Irlanda do Norte (1969-98), que matou mais de 3,5 mil pessoas, realizado pela Universidade de Boston, uma das principais colônias irlandesas nos Estados Unidos. Anos depois do acordo de paz, o IRA, que lutava contra o domínio britânico sobre a Irlanda do Norte, entregou as armas e foi desmobilizado
Havia um compromisso de que os depoimentos só seriam revelados depois da morte dos que concordaram em contar sua história, mas a Polícia da Irlanda do Norte recorreu à Justiça dos EUA com base na Lei de Liberdade de Informação e ganhou.
A decisão de processar Adams ou não cabe agora ao Ministério Público da Irlanda do Norte, que hoje tem um governo semiautônomo de união, com a divisão do poder entre católicos e protestantes.
Os católicos são republicanos e nacionalistas irlandeses. Querem integrar o Norte à República da Irlanda e unificar a ilha. Os protestantes querem manter a união com o Reino Unido. É um conflito que vem desde que os reis da Inglaterra começaram a intervir na Irlanda, no século 12.
A Irlanda do Norte surgiu em 1922, quando a República da Irlanda se tornou independente. O IRA e o movimento nacionalista mais radical nunca aceitaram a divisão do que chamam de "uma ilha pequena". Jamais se referem aos seis condados da província do Úlster como Irlanda do Norte. Para o Sinn Féin, é o "Norte da Irlanda".
Ao sair da prisão, o presidente do Sinn Féin declarou: "O passado é o passado. O IRA acabou."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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